Foi Samuel T. Colerige que, no início do séc. XIX, cunhou pela primeira vez o conceito de suspension of disbelief (suspensão da descrença) caracterizando-o como: a capacidade (ou não) de um escritor conseguir introduzir suficiente interesse humano e verosimilhança de realidade numa obra de ficção, de forma a que o leitor suspenda, em si, a atitude de desconfiança sobre a inverosimilhança de uma narrativa.
A cerrada marcação psicológica, e até o aspecto físico, que Georges Simenon imprimiu, subtilmente, à sua personagem Maigret, em quase uma centena de livros, torna extremamente difícil ao leitor aceitar o desempenho visual e de interpretação, em filme ou séries televisivas, de vários actores que encarnaram a figura do célebre comissário francês.
E, embora na maioria dos casos os actores tenham aparência tranquila e voz pausada, alguma corpulência e robustez, algo escapa a uma sobreposição credível, que permita aceitar, por parte do espectador, a verosimilhança da personagem. De Jean Richard a Bruno Crémer, de Albert Préjean a Gino Cervi ou Michael Gambon, franceses ou não, todos eles falham em criar essa tal suspension of disbelief de que falava Coleridge.
Para mim, o único que quase conseguiu encarnar, parcialmente, o comissário Maigret, terá sido Jean Gabin.
E, mesmo assim...
Foi o melhor.
ResponderEliminarEstamos de acordo.
EliminarBoa tarde!