domingo, 13 de abril de 2014

A par e passo 87


Não terá sido suficiente à nossa geração aprender pela sua própria experiência como as mais belas coisas e as mais antigas, e as mais formidáveis e mais bem organizadas são perecíveis por acidente; ela viu, na ordem do pensamento, do senso comum, e do sentimento, produzirem-se fenómenos extraordinários, realizações bruscas de paradoxos, decepções brutais da evidência.
Não citarei senão um exemplo: as grandes virtudes dos povos alemães engendraram mais males de que a ociosidade conseguiu criar em vícios. Vimos, com os nossos próprios olhos, o trabalho conscencioso, a instrução mais sólida, a disciplina e a aplicação mais sérias, adaptadas a medonhos desenhos.
Tantos horrores não teriam sido possíveis sem tantas virtudes. Foi preciso, sem dúvida, muito de ciência para matar tantos homens, dissipar tantos bens, aniquilar tantas cidades em tão pouco tempo; mas foram precisas não menos qualidades morais. Saber e Dever, sois então suspeitos?

Paul Valéry, in Variété I (pgs. 12/3).

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