domingo, 18 de outubro de 2015

Pseudo-japoneses


Sempre tive alguma dificuldade em aceitar chamar haiku a pequenos poemas sujeitos a regras semelhantes, mas que não fossem escritos por poetas japoneses. Soava-me a falso, a imitação deslavada. Muito embora algumas vezes, poucas aliás, na sua essência e conteúdo, eles tivessem um resultado satisfatório.
No século XX, o haikai tornou-se popular e foi cultivado por vários poetas do Ocidente. No meu entender, porém, a esses poemas faltava sempre qualquer coisa de essencial. Talvez a alma, apesar da ossatura... Mesmo assim, aqui deixo em tradução, que fiz, dois pseudo-haiku de poetas ocidentais conhecidos:

Pavimentos perigosos...
Mas este ano enfrento o gelo
com a bengala de meu pai.

Seamus Heaney (1939-2013).
...
Face que se fez morena
de tanto olhar os gansos
partir para o oeste.

Alec Finlay (1966).

8 comentários:

  1. Assim um bocadinho como o fado...cantado com alma, só por um português...

    Gosto mais do primeiro, dos que aqui colocou.

    Boa noite:)

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    1. É verdade, Isabel..:-)
      Heany também tem outra qualidade, como poeta, e foi prémio Nobel.
      Uma boa noite, também!

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  2. Também gosto mais do primeiro. :)
    Bom dia a ambos.

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    1. É, na verdade, mais sugestivo que o segundo.
      Bom dia!

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  3. Não apreciei à primeira esta forma de poesia, mas cada vez admiro mais esta capacidade de exprimir uma ideia poética em apenas três linhas!!!
    Já agora, acha que isto é um haiku?
    "Ao olhar para poente
    vejo luz de fogo entre as árvores
    e penso no novo dia."
    Boa noite!

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    1. O meu primeiro contacto com a poesia japonesa deu-se em Lisboa, por volta de 1964-65, através da biblioteca da Embaixada do Japão (Av. Joaquim A. de Aguiar) que, sendo pequena em livros, era rica em poesia, traduzida para inglês. Daí, ainda hoje eu usar a nomenclatura britânica: haikai (singular) e haiku (plural).
      O haikai caracteriza-se por ser um terceto com 5-7-5 sílabas métricas, o que, para quem como eu aprecia a concisão e não gosta, especialmente, da poesia barroca, era (e foi) uma descoberta maravilhosa..:-)
      Com tolerância e boa vontade, o poema que cita, poderia ser um haikai. Mas eu nunca serei um bom juiz, neste particular.
      Desejo-lhe, Maria, também uma boa noite!

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    2. Muito obrigada pelo esclarecimento. Já tinha tentado perceber a diferença entre haikai e haiku, mas a informação que encontrei não correspondia a esta de singular e plural, daí não ter usado o termo certo.
      Tenha um bom dia!

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    3. Não tem que agradecer, foi um gosto..:-)
      Boa tarde!

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