sexta-feira, 28 de maio de 2010

O'Neill, no seu melhor




Tive ocasião de, muito recentemente, ter tido acesso a um proémio de Alexandre O'Neill (1924-1986) às "Obras de Nicolau Tolentino de Almeida" (Estúdios Cor, Lisboa, 1968), em que ele, muito judiciosamente, diz o seguinte:
"...Pode acontecer que o poeta se desacerte ao abotoar-se, diga «perdão!» quando é pisado por vocês, faça uma declaração de amor a um marco do correio, não saiba ganhar a (vossa) vida... Pode acontecer. Mas acautelai-vos: o poeta é um distraído, terrivelmente atento. A sua distracção é pura economia. Apostado em caçar o essencial, o poeta resvala de olhos vagos pelo que já viu e reviu. Ele sabe que até morrer nunca mais terá tempo. Como quereis que perca o tempo que não tem - convosco? Ou melhor: com aquilo que, em vós, é mero ornato repetido até à náusea?..."

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