quarta-feira, 12 de maio de 2010

Contra a obscuridade



Os pântanos e as areias movediças, às vezes, são terríveis: não permitem avançar, enredam-nos, pegajosamente. Fomes de séculos, ignorâncias genéticas de gradual degenerescência, tontices de pouca cultura : são alguns dos suspeitos do costume, para além da prosápia bacôca, quando não de uma hipocrisia de sacristãos que "manquejam" do cérebro, como Camões "manquejava" de um olho. Há questões fracturantes na sociedade portuguesa, são reais e há que tê-las em conta.
Sobretudo quando são dialogadas de forma limpa, alta e digna. O problema é que há uma gentinha a puxar "para o chinelo" que quer arrastar os outros para o pântano da treta, da desconversa, da demagogia dos "clichés" e do politicamente correcto. Que maçada!...
Jorge de Sena, no seu prefácio a "O Reino da Estupidez (I), escrevia: "...O espírito religioso não tem que ver, a não ser em subsistência de ritualismos primitivos, com uma ordem moral. Quando, por um gesto mal feito, o homem temia ofender a divindade, era compreensível que, teocraticamente, fosse organizada e mantida uma normalização ética no seio de uma natureza hostil. Mas, quando o progresso das ciências postula que a religiosidade é, inescapavelmente, uma situação interior, cuja liberdade deve ser protegida e respeitada, qualquer normalização que extrapole esses limites, quer impondo aos outros uma conduta que nos seja atraente, quer tentando regulamentar aquela situação, viola os direitos sagrados da dignidade humana, essa dignidade que nunca soubemos tão bem, como hoje, qual deverá ser."
Por palavras de Jorge de Sena, disse. E acrescento, no ano do 1º centenário: Viva a República!

P. S.: para JAD e MR, solidariamente.
Nota: pedi a Eugénio de Andrade o título, deste poste, emprestado.

3 comentários:

  1. Ora até que enfim! O meu retrato na net! Só que agora uso óculos...

    Eu tenho uma grande dificuldade em aceitar sentimentos de superstição, fanatismo e congéneres. E não me peçam para respeitar porque também não respeito outras atitudes do ser humano, sejam ou não permitidas por lei.Necessariamento tenho de as aceitar e, intimamente, lamentar.À luz de uma razão que tomo por certa - a minha - mas que estou sempre pronto a rever e corrigir. E como já perdi a esperança de endireitar o mundo vou perdendo a esperança de ver o mundo direito - o que era simples, bastava tolerância e respeitar os valores cristãos, em nome dos quais...
    E em nome de Res Publica - que é feito dos belos ideais ? quantos desmandos ...
    Desencantado...
    Mas não estou muito mal no retrato...

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  2. Concordo com tudo o que disse e também aproveitando as palavras de Jorge de Sena.
    E Antero analisou muito bem este país nas Causas da decadência [...], mas continuamos na mesma quase 150 anos depois.

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  3. Depois de ter andado pelo Prosimetron, volto a dizer: País de brandos costumes. :)
    Viva a República!

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