sábado, 22 de maio de 2010

Uma noite especial...




Não é muito frequente dar conta, aqui no Arpose, de acontecimentos culturais, ou outros, de minha especial predilecção. Ultimamente, também não sou grande telespectador, por razões óbvias. Mas hoje é diferente: a RTP 2 tem um programa notável, depois do Jornal 2. Aqui vai para os meus Amigos e visitantes menos avisados:
22,44 hrs. - Entrevista a João Bénard da Costa (1935-2009) - Filme da Minha Vida.
23,03 hrs. - "Johnny Guitar" (1954) de Nicholas Ray (1911-1979).
01,00 hrs. - "Intriga Internacional" (1959) de Alfred Hitchcock (1899-1980).
Tenham uma boa noite televisiva!, como eu vou ter. Se não forem ao "Rock in Rio"...

2 comentários:

  1. Obrigada pela lembrança. Faz um ano que fui ver o Johnny Guitar à Cinemateca.
    Bons filmes! Até logo!

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  2. Cantar do Amigo Perfeito
    Passado o mar, passado o mundo, em longes praias,
    de areia e ténues vagas, como esta
    em que haverá de nossos passos a memória
    embora soterrada pela areia nova,
    e em que sobre as muralhas quanta sombra
    na pedra carcomida guarda que passámos,
    em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
    ainda recordas esta, ó meu amigo?

    Aqui passeámos tanta vez, por entre os corpos
    da alheia juventude, impudica ou severa,
    esplêndida ou sem graça, à venda ou pronta a dar-se,
    ido na brisa o sol às mais sombrias curvas;
    e o meu e o teu olhar guiando-se leais,
    de nós um para o outro conquistando
    - em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
    ainda recordas, diz, ó meu amigo?

    Também aqui relembro as ruas tenebrosas,
    de vulto em vulto percorridas, lado a lado,
    numa nudez sem espírito, confiança
    tranquila e áspera, animal e tácita,
    já menos que amizade, mas diversa
    da suspeição do amor, tão cauta e delicada
    - em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
    ainda as recordas, diz, ó meu amigo?

    Também aqui, sorrindo em branda mágoa,
    desfiámos, sem palavras castamente cruas,
    não já sequer os íntimos segredos
    que o próprio amor, porque ama, não confessa,
    nem a vaidade humana dos sentidos, mas
    subtis fraquezas vis, ingénuas e secretas
    - em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
    ainda recordas, diz, ó amigo?

    Partiste e foi contigo a juventude.
    Ficou o silêncio adulto, pensativo e pródigo,
    e o terror de não ser minha estátua jacente
    sobre o túmulo frio onde as cinzas da infância
    desmentem - palpitar de traiçoeira fénix! -
    que só do amor ou só da terra haja saudade.
    Em longes praias, outras nuvens, outras vozes,
    tu sabes que a levaste, ó meu amigo?

    Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'

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