quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mercearias Finas 7





Vai-se compor o poste por causa do Arroz de pato, ao jantar. Mas o vinho escolhi-o mal, valha a verdade. Tenho sempre alguma dificuldade nos casamentos líquidos das ementas onde entra pato. Hoje, optei por um monocasta branco Antão Vaz, do Alentejo e, francamente, foi um desastre. Acho que teria ido melhor com vinho tinto, ainda que leve. Talvez Beiras ou Dão. Mas falei, a princípio, de Arroz de pato. Tenho de confessar que sou um "arrozeiro" indefectível. E, na família, tenho um continuador radical - os genes sempre contam para alguma coisa... E tenho, para mim, de forma definitiva que se cozinha melhor o arroz a Norte, do que a Sul. E não é só do estrugido ou refogado, são outras sabedorias ancestrais.
Sempre pensei que, em Portugal, a sequência teria sido: castanhas, batatas, arroz. Estava enganado (obrigado, António!). Já se plantava arroz no tempo do rei D. Dinis, muito embora o seu uso intensivo comece a crescer a partir do séc. XIX. Camilo tem um romance tripartido intitulado: "Coração, cabeça e estômago". Como se dissesse: mocidade, maturidade e velhice. Não sei se Ana Plácido era boa cozinheira. Mas que eu tenho comido bom arroz de carqueja, em Vila Nova de Famalicão, é verdade. Acabemos com palavras do escritor de S. Miguel de Seide, para acabar em beleza: "...E assim se prova que o orgão mais sensível à eloquência é ela (a barriga), e que a humanidade sofredora é um estômago desconcertado..."

P. S.: a A. A. M. e H. N., com agradecimentos bibliográficos, e não só.

7 comentários:

  1. Eu também sou uma arrozeira indefectível. Mas muitos portugueses são-no.
    No norte fazem muito bem arroz de forno. Como em nenhum outro sítio.
    Pato é das carnes que prefiro.

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  2. Falado foi, há já uns anos, o Pato com Laranja, na televisão. Esse foi servido com vinho de missa, xaroposo.
    Eu preferiria um clarete,embora ave.
    Fiquei com apetite! Aquele salpicão estaladiço a cobrir o arroz... Há quem ponha fiambre -não gosto, e levanta se me uma dúvida:o fiambre é feito dos presuntos e pás do porco. O porco tem quatro pernas. De onde vem o fiambre da perna extra?

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  3. Obrigado,MR,por concordar comigo na verdade gastronómica.

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  4. Como o Guimarães Rosa tem um conto que se chama "A terceira margem do rio", imaginemos que o fiambre da perna extra é a 5ª pata do porco. Se calhar, criados no Entroncamento.

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  5. Arrozeiro indefectível, também, e concordo que é no Norte que o cozinham excepcionalmente bem. Não sou grande apreciador de pato, a menos que venha com arroz.

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  6. Ora, então, viva o arroz!,c.a..(bem feito, e a Norte)

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