terça-feira, 22 de julho de 2014

Divagações 70


"Perdigão perdeu a pena  / não há mal que lhe não venha...", dizia Camões que, pelas medidas de hoje, não morreu velho - atendendo aos dados de que dispomos, não terá chegado aos 60 anos. Sena, que morreu com 58, no seu magistral conto Super Flumina Babylonis, deixa supor que Camões sofria de dores na próstata, ou que alguma blenorragia, mal curada, lhe afectava as partes, de forma dolorosa e cruel, nos seus últimos dias.
Conto a generosidade das primaveras e verões, pelos fins de tarde que passo na varanda a leste. E, este ano, tenho de concluir que o tempo foi avaro. Porque posso enumerar pelos dedos, os dias que vi a esvairem-se, pela noite dentro, e as aves, em voos finais, a despedirem-se da luz. E já vamos no fim de Julho, com dias cada vez mais pequenos.
Terminaria, um pouco a propósito, com a epígrafe de um livro que não há:

Aqueço-me ao vagar da minha sede
por onde a arte é mais triste...

6 comentários:

  1. «um livro que não há», as que se espera que venha a haver. :)
    Belo texto e ilustração.
    Bom dia!

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  2. Era preciso que ganhasse espessura, numa idade de coisas ralas..:-)
    Obrigado pelas suas palavras.
    Bom dia!

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  3. Interessante texto.
    Quando olhei a pintura, pensei logo no autor: não errei.

    Boa tarde!

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  4. Adorei a epígrafe. Aguardo o livro.
    Senão, roubo a epígrafe e coloca-a num livro (e, assim, passa a haver). Não, não seria capaz!

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  5. Folgo com o facto. Sobre livro a haver, será muito problemático...

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