sábado, 26 de julho de 2014

Variações espúrias sobre um poema de W. H. Auden


A palavra cabelo pode ter inúmeros significados, embora o primeiro que nos ocorra não seja: "mola de aço finíssima, enrolada em espiral e que serve para regular o movimento de certos relógios" (Morais, I, 420).
Menos canónica não poderia ser esta versão, que trabalhei em português, sobre o poema Parable, de  W. H. Auden (1907-1973), inserto no livro Homage to Clio (Faber, 1960). Sabe-se como o Poeta raramente abandonava a rima, o que conferia, aos seus versos uma autoridade própria e tradicional, pelo menos, na forma, que não no conteúdo. Mas que dificultava bastante a sua tradução para outras línguas, se se pretendesse uma fidelidade literal, na versão dos seus poemas. Por uma questão de honestidade, e ao contrário do que é habitual, vou reproduzir a quadra original (em inglês) e a versão a que cheguei. Que Auden me perdoe o sacrilégio!

Parable

The watch upon my wrist
Would soon forget that I exist,
If it were not reminded
By days when I forget to wind it.

Parábola

O relógio por cima do meu pulso
Depressa se esquecerá que existo,
Basta que eu me não lembre,
Por uns dias, de lhe afagar o cabelo.

4 comentários:

  1. Muito belo. Gosto muito de Auden.
    Bom dia!

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  2. Também sou grande apreciador de Auden.
    Bom dia!

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  3. Por isso o Morais... A cabeça não existe só para transportar o cabelo (o outro) :-)))

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    1. Até porque se as meninges não trabalharem, o cabelo fica sempre mais gorduroso..:-))

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