Tenho, afortunadamente, cópia de uma carta pessoal de Herberto Helder, enviada a Eugénio de Andrade, em Dezembro de 2000, onde aquele faz observações pertinentíssimas e justas sobre a poesia dos, na altura, seus confrades poetas portugueses. De uma forma sucinta, mas arguta, classifica-os, através das suas qualidades e dos seus defeitos. É um texto precioso para uma melhor compreensão da poesia portuguesa da segunda metade do século XX.
Saíu, recentemente, na Yale University Press, um volume de 606 páginas, da correspondência entre Leonard Bernstein (1918-1990) e Aaron Copland (1900-1990), intitulado The Leonard Bernstein Letters. As cartas combinam, harmoniosamente, um tom respeitoso com um registo sempre muito afectuoso. Mas que não deixa de lado a reflexão crítica e racional sobre outros compositores da época. Quem sai um pouco "chamuscado", desta correspondência, é George Gershwin (1898-1937), que Bernstein refere como sendo um autor de músicas descosidas (o adjectivo é meu) e sem unidade - em suma, com pontos altos, mas fragmentados e sem consistência de unidade.
Em determinadas áreas - e a Música e a Poesia são, porventura, dos melhores exemplos - não há nada como os próprios oficiais do mesmo ofício, para as avaliarem como deve ser. Ao leigo cabe, apenas, gostar ou não gostar.
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