quarta-feira, 23 de julho de 2014

Recuperado de um moleskine (8)


Convenço-me, às vezes, que as gaivotas não dormem. Porque, em Lisboa, se acordo a meio da noite, com frequência lhes oiço os seus pios glaucos e desagradáveis, para não dizer: plangentes e agressivos.
Por agora e por aqui, na região outrabandista, passam no céu limpo pequeníssimas nuvens levemente afogueadas, quero eu dizer: de um laranja tímido flutuante, em direcção ao sul. Altas, as gaivotas vão caladas.
Mas será que eu vejo, com a atenção devida, o maravilhoso voo das simples andorinhas?
Uma, muito jovem com certeza, ensaiou com precaução um voo raso e, depois, a pouco e pouco, foi subindo, confiante. Outra, talvez mais velha, maior, ia alta, mas nervosa no seu voo tremido. Mas os pais (?) quase pairavam, numa calma magnífica e serena, num voo seguro, entrecruzado por afecto, mas sempre tranquilo.
De súbito, um bando indisciplinado de pardais "cruzou o céu azul num assobio", como o Eugénio disse, para sempre, e eu não saberia dizer.

2 comentários:

  1. Uma gaivota disse exatamente o mesmo acerca dos seres humanos: nunca adormecem! Fazem tanto barulho... (é que eu, agora, acordo todos os dias, com um cão da vizinhança que não deixa de ladrar enquanto a dona não regressa. Saí pelas 7:30 e vai levar a neta - que vai para a praia. São 45 minutos de bom ladrar. espero que o cão parta a casa, como protesto de não ir também lavar-se nas águas do mar!) Eu até gostava de cães!

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    1. Normalmente, os cães são ainda piores do que as gaivotas, porque não saem do sítio, enquanto as gaivotas vem e vão, dando aos humanos intervalos de descanso...
      Bom dia!

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