terça-feira, 8 de julho de 2014

Apontamento 49: O descrédito nas siglas



Nunca apreciei, verdadeiramente, o uso de siglas sem o devido desenvolvimento para que o leitor comum, sem ser especialista numa determinada área, compreendesse o que se ocultava através de poucas letras. Confesso que o abuso das siglas acompanha bem a tendência geral do discurso político-financeiro na sua tentativa de afastar e enrodilhar, com linguagens pretensamente esotéricas, embora cada vez mais pobres de substância, o cidadão até à exaustão e ao afastamento do essencial, i.e., o de participar activamente na vida democrática do país, seja ele qual for.

Contudo, a educação – familiar e institucional – transmitia, desde cedo, algum respeito por “grafemas” que, à partida, não nos diziam nada: ONU, EU, UNESCO, etc. O processo próprio de crescimento, físico e mental, lá foi enriquecendo a “paleta do mundo”, nem sempre com a mesma consideração inicial, porque o aperfeiçoamento e a autonomia do pensamento a isso obriga. Outras siglas, aparentemente anódinas como a OCDE, revelaram-se, definitivamente e como o FMI, em agentes ao serviço de entidades e estratégias que nada devem ao essencial da Democracia e da Humanidade.

De nada vale o Estado querer introduzir uma pretensa “cadeira ou disciplina” para explicar aos “jovens” o mundo financeiro, quando, no fundo, se pretende esconder o essencial, i.e., o fim último de um discurso tortuoso, enrodilhado e cheio de siglas.

E, se alguma dúvida restasse, tivemos hoje uma prestação exemplar. Veio o Secretário-Geral da OCDE, em pessoa como na imagem acima, explicar, num “portunhol” indigente, as conclusões de um relatório encomendado pelo próprio Governo de Portugal, i.e., pago pelos contribuintes. Ora, o que se esperava ?

Basta a qualquer criatura do Ensino Primário usar o seu bom senso, e sem “saber de finanças” ou de “actos ilocutórios”, para perceber o alcance de um “sermão encomendado”.

Post de HMJ


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