sexta-feira, 25 de julho de 2014

A arte da tragédia


É sabida a propensão e política de sigilo que os regimes ditatoriais têm para escamotear, aquando de catástrofes naturais, o número de vítimas resultantes. Aconteceu assim com as inundações gigantescas em Lisboa, em Novembro de 1967, em que só muito mais tarde se veio a saber que terão morrido cerca de 700 pessoas; assim acontece na Coreia do Norte, como na China aconteceu, em Maio de 2008, com o tremor de terra na região de Sichuan, em que terão sucumbido 90.000 pessoas, 5.000 das quais eram crianças que ficaram soterradas nos escombros das escolas.
Não sou grande apreciador da obra do artista e dissidente chinês Ai Weiwei (1957), até por ser um homem controverso em muitas das suas atitudes. Mas vou acompanhando o seu percurso. O Brooklyn Museum, de Nova Iorque, consagra-lhe uma exposição, até 10 de Agosto, das suas obras mais recentes. Uma das peças mais curiosas, em imagem, Snake ceiling foi construida com o material das malas escolares de uma parte das crianças que morreram no terramoto de Sichuan. Foi Ai Weiwei que recolheu esses despojos e criou essa escultura, em homenagem às vítimas infantis. A simbologia decorre da voracidade da serpente, mas também da perspectiva de nova vida que a queda e rejuvenescimento da pele do réptil representa.

2 comentários:

  1. Gostei desta peça e não conheço Ai Weiwei.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. É um artista polémico, até mais como homem, pelos seus actos, do que pelas obras que produz. E esta é bem interessante.

      Eliminar