sexta-feira, 25 de julho de 2014

Régis Debray a "Le Monde"


São palavras de um homem zangado, que terá dado, ao longo da sua vida, para o peditório de um mundo melhor, talvez inutilmente. Que investiu em causas que, entretanto, perderam significado, que olha em volta e não gosta do que vê. Mas as suas palavras, em entrevista a "Le Monde"(18/7/2014), envoltas numa cortante e seca ironia, não deixam de ser objectivas, realistas e sábias. Por isso, traduzindo alguns excertos, aqui partilho algumas das respostas e reflexões de Régis Debray (1940). Como se segue:
- No Oriente, inventam a pólvora e criam os fogos de artifício. No Ocidente, fabricam canhões.
- Por outro lado, a França republicana tendo renunciado ao seu sistema de valores e à sua autonomia diplomática, acabou por integrar os comandos da OTAN, decisão anedótica mas simbólica do presidente gallo-ricain Sarkozy, imitado pelo seu sósia Hollande. Eis-nos, por isso, de regresso à "família ocidental". A dupla morte histórica de Jaurés e De Gaulle que deu a esta abdicação o sentido de um regresso à normalidade.
- ...uma coesão, sem precedente sob a égide de Washington, aceite, em definitivo, por todos. Num mundo multipolar, o Ocidente é o único conjunto unipolar. Jamais um Chinês se deixaria representar por um Indiano, e vice-versa. Jamais um Brasileiro por um Argentino ou um Nigeriano pela Áfica do Sul. O Ocidente não tem senão um número de telefone em caso de crise, o da Casa Branca.
- O Ocidente de Montaigne, de Levi-Strauss, de Zeev Sternhell e de Snowden, eu estou pronto a bater-me por ele. O Ocidente dos etnólogos, da curiosidade, da coragem cívica, para que o Outro exista, é aquilo que é preciso defender. O canto do mundo onde é permitido duvidar. Nós temos até o privilégio de poder absorver a negatividade crítica. Quando temos um dissidente, cooptámo-lo. Quando há um opositor, reintegrámo-lo. Repare, fizeram de Daniel Cohn-Bendit a grande celebridade da Europa neo-liberal.
- É preciso termos a noção de que a modernização é regressiva e que a mundialização é uma espécie de balcanização. Quanto mais o mundo se uniformiza pela técnica e pela economia, mais necessário será recuperar as identidades perdidas.

com agradecimentos a H. N..

4 comentários:

  1. Um dos meus ídolos de juventude.
    Vou ver se consigo ler a entrevista na totalidade.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Vale muito a pena ler a entrevista na integra, porque é muitíssimo interessante.
      Bom dia!

      Eliminar
  2. O Cohn-Bendit, tal como o seu nome logo anuncia, não é, nem nunca foi, mais do que isso mesmo: um imbecil abençoado!

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. A juventude terá os seus verdores, mas também é bem verdade que nem todos os adolescentes têm carisma e coragem.

      Eliminar