sexta-feira, 11 de julho de 2014

Sobre a ironia, a verdade e a memória


Creio que não há maior malogro do que ter de explicar uma ironia, que foi nossa, a um interlocutor menos atento. Até porque a ironia pode ser, por extremo, uma forma de melancolia que se não confessa inteiramente. Ou, então, uma reacção agressiva tímida e amortecida que, a não ser percebida, cria um halo ou casulo defensivo de uma certa solidão.
Como a verdade incómoda, depois de dita, pode vir a tornar-se num remorso que vem à tona, ciclicamente, para nos inquietar. Porque a memória se rasura a si mesma, ou censura, em perspectivas que não controlamos de todo, na sua extensão emocional. Há que ter em conta a sua misteriosa autonomia.

4 comentários:

  1. É por isso que nos sentimos às vezes obrigados a acrescentar : " Estava a ser irónico ". Até para desanuviar a conversa.

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    1. Em vez da frase que cita, eu uso mais: "Estava a brincar..." - talvez por um recuo instintivo.

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    1. O nosso auto-controlo ainda está na infância da arte..:-)

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