segunda-feira, 21 de julho de 2014

Para MR e Artur Costa, e em resposta aos seus comentários no poste "Nada se perde, tudo se transforma"


Os dois postes de hoje (Manguel/Koons) tinham, propositadamente, embora de forma pouco perceptível, uma relação reflexiva e umbilical, de denúncia do mercado e seus agentes, na sua venalidade oportunista e  actual. O medo, a insegurança e a falta de sentido crítico permitem que o "rei vá nu", mas todos, ou quase todos, se calem.
No fundo, e de forma rude eu diria que se quer, por motivos óbvios, mas inconfessáveis, confundir estética com consumo, quantidade com qualidade. A arte que, na sua essência, deveria "elevar" e fazer pensar, desceu ao "lumpen" da facilidade literal, à indigência banal de poder ser compreendida por todos, sem ajuda nem explicação, porque a sua superficialidade não o exige. E o motivo é simples: vender, vender sempre e mais a toda a gente. As editoras fazem o mesmo... E os meios não importam. Cicciolina foi uma forma de Koons chegar a um nicho de mercado de difícil acesso e onde a "arte" não ia muito além do chinelo e da colorida lingerie. Com isso alargou, grandemente, o seu leque de clientes.
Depois, há uma legião de curadores, marchands, editores e "artistas" que precisam de ganhar vida, mesmo que seja a vender banha da cobra.
A benefício de inventário, há que dizê-lo: no panorama de desemprego e miséria actuais, Koons e J. Vasconcelos dão trabalho a muita gente e são uma espécie de mini-centro-de-emprego. Leve-se isso em conta dos seus pecados, até porque, se eu fosse elitista, teria que dizer que a Arte ou a Literatura são outra coisa...

9 comentários:

  1. Excelente.
    Há, realmente, que distinguir três coisas: o mercado em si, a obra e o "artista".
    O "mercado" e as suas implicações atuais - massificação instantânea, as novas tecnologias, formatos e modelos, os novos segmentos de "consumidores" que formaram o seu gosto e a sua personalidade em paradigmas socio-culturais muito diferentes dos que nós conhecemos (nós=os que têm mais de 50 anos). Assim por alto, eu diria que nada me horripila nesta realidade. Posso é não a entender, como em tempos muitos não entendiam e não aceitavam a "perspetiva" na pintura. A História é o que é, anda para a frente no tempo (embora possa andar para o lado, ou para trás, se usarmos outros critérios), e eu que me adapte, se quiser continuar a aproveitar.
    Já a obra e o "artista" são difíceis de dissociar (e na categoria de artista meto todo o coletivo que produz e vende a obra). À partida, eu diria que cada obra vale por si, mas não posso deixar de confessar que a alguns "artistas" nem sequer dou hipóteses. É possível, por exemplo, que Joana Vasconcelos faça coisas jeitosas, e até obras-primas. Eu é que não as consigo descortinar, porque a indivídua propriamente dita "não me assiste".
    Por Koons tenho apenas a consideração indiferente de quem até gostou do gatinho em Bilbau e acha graça à história com a Cicciolina, e se por acaso lhe cair um bloco de cimento (a ele ou ao gato) em cima acharei a mesma piada. Por JV... bastaria ver a fotografia que o APS escolheu para ilustrar esta posta para entender. Diz-me com quem andas...

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    1. Grato pelas suas reflexões que, inteiramente, eu subscreveria.

      Do poste, ficou-me uma dúvida substantiva, quanto à foto: quem seria a senhora de "paupérrimas feições" que teve o lugar de honra, do meio, dando a direita à Maria?

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  2. É a conservatriz do Palácio... http://caras.sapo.pt/famosos/2013/03/30/exposicao-de-joana-vasconcelos-leva-personalidades-ao-palacio-da-ajuda

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    1. Ora, pois claro!, mas que distração a minha..:-))

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  3. Claro, há aquelas que pensam que se vestem muito bem e que só gostam de laços, folhos, etc. E de levar o menino à escola.

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  4. Por acaso, o meu comentário era dirigido à primeira-dama.
    Quanto à conservatriz foi o seu último ato como tal; geria o palácio como se fosse a casa dela.

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    1. Pois, a primeira-dama...
      A conservatriz (A. C. dixit), não lhe gostei das feições, e nem sabia do resto...

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  5. A foto é uma relíquia da cultura portuguesa de 2013. Quem será o senhor da direita do observador (é uma pergunta para daqui a dez anos)?

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    1. Daqui por 20 anos, é bem provável que um desprevenido observador pense que é um abexim, que visitou o Palácio da Ajuda. E que a mulher, à direita dele, trazia um traje regional desse país distante...

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