quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ribeira das Naus


Se dissermos toda a verdade, não incorreremos em perjúrio e tudo nos será perdoado - dizem, complacentes e bondosos, alguns livros sagrados. Mas há que ter em conta o fingimento dos poetas - Pessoa dixit.
Eu teria ficado por ali, pela Ribeira das Naus, a noite inteira, porque o entardecer estava tranquilo e ameno. Ficaria até de manhã, como fiquei, uma vez, emocionadamente, durante uma noite-manhã de Santo António, pelas imediações da Estufa Fria. A juventude tem destes arrebatamentos, seja qual for a geração...
Até porque, ali, junto ao Tejo, não havia já gaivotas agressivas, a noite ia descendo pouco a pouco e o ar morno nos acariciava a pele e nos adoçava a fala, facilitando o pensamento e o diálogo. Passámos por uma jovem sentada junto ao Tejo, que parecia cantar uma serenata ao rio, convincente e comovida. Eu teria ficado, por ali, a noite inteira, sentado junto ao guitarrista que, amorosamente, a acompanhava.
Mas as duas senhoras, que me ladeavam, iam de passo estugado em direcção ao Terreiro do Paço. E o Augusto, bragançano e mais ligeiro, ia bem uns 100 metros à frente, palrando, também, com uma jovem alemã. Só por isso é que apressei o passo.  

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