domingo, 6 de julho de 2014

Da dificuldade de algumas leituras, ou o princípio de Peter


A verdade será, também, por entre as nossas dúvidas, confessar as nossas próprias deficiências. Ou perceber os nossos limites.
Nunca fui familiar próximo  da Filosofia e, aí, estou - creio - em consonância com a maioria dos portugueses. Porque também só com  extrema boa vontade poderemos assinalar dois ou três nomes de "verdadeiros" filósofos, ao longo de toda a história portuguesa.
Li, e creio que compreendi, G. Berkeley, Pascal, Descartes, Kierkeegaard, Schopenauer, Nietzsche, Bergson, e alguma coisa dos Pré-socráticos. Por aí me fiquei, de algum modo. Spinoza já me criou dificuldades ou, se quisesse justificar-me airosamente, diria: aborreceu-me...
Mas também em poesia, às vezes, me acontecem dificuldades de leitura: nunca consegui entrar nos poemas de Paul Celan, mesmo através de traduções francesas. A espessura - para falar de prosa - de Maria Gabriela Llansol, nunca se me desvendou em claridade de entendimento. E, voltando à Filosofia, também tenho extrema dificuldade em ler Heidegger, mas insisto. E se penso que os seus postulados e proposições são minuciosos e lentos no avançar, caminhando a passo de caracol, mas exaustivos, como se fossem explicados para crianças, também me acontece perder-me, algumas vezes, nesse labirinto de reflexão.

9 comentários:

  1. Eu li bastante Filosofia. Hegel é bastante difícil. Mas li muito Leibniz tb.
    Quanto a Heidegger, li alguns textos dele, como a Carta sobre o Humanismo. Às vezes começamos pelo mais difícil e ajuda (ou ajudava-me, nessa época) ler textos sobre o autor.
    Maria Gabriela Llansol é para mim um caso incompreensível de venda de livros e de seguidores. Não entendo nada do que escreve e não me tenho por burra. Mas quando ela ganhou um prémio, há muitos anos, Mário Soares, na altura PR (ou seria PM?) disse na rádio qualquer coisa como: «Pode ser muito boa, mas eu não a entendo.» Fiquei contente; estava em boa companhia. :)

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    1. Curiosamente e neste momento, estou eu a tentar esmiuçar a "Carta sobre o Humanismo", embora na versão inglesa, que faz parte do livro da imagem ("Wegmarken")," Pathmarks". Mas leio 2/3 páginas e páro, para respirar fundo..:-)
      De Leibniz, creio que nunca li nada, mas de Hegel, li, embora com dificuldade, a mesma que tive com Kant. As leituras, que fiz de Bergson, é que me deram muito prazer.
      Quanto a Llansol, estamos conversados...E, como diz, em boa companhia.
      Bom dia!..:-)

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  2. E tb deve gostar de Bachelard que tem muito a ver com a poesia.

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  3. Todo o contrário: Maria Gabriela Llansol vende pouco, e isso não tem, de facto, nada de incompreensível no país em que muito vendem Sophia, Eugénio, Margarida Rebelo Pinto e José Rodrigues dos Santos (passe a provocação aos dois primeiros nomes). Quer dizer, o que vende é o fácil, melhor ou pior. O que não significa que Gabriela seja particularmente difícil (só o é na forma fragmentária, caso se queira insistir nisso). Nunca dela li nada que não compreendesse. Mas, enfim, diz-se sempre o mesmo: que é difícil e que é um difícil oco. A primeira não me parece verdadeira, a segunda é um absurdo de quem desdenha e não quer comprar, só apoucar o que vê, evidentemente, superior - poder-se-ia indicar vários nomes das nossas letras que o repetem amiúde, nenhum deles literariamente recomendável, mas todos bastante vendedores. "Les beaux esprits..."

    Celan, esse, sim, é mais difícil. Mas não deixará de se reconhecer nele com facilidade, apesar da dificuldade, o maior poeta do séc.XX (proeza nada pequena) por causa disso.

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    1. Gabo-lhe o privilégio, antes de mais.
      Por Celan, sobretudo, que não por Llansol.
      Quanto às vendas, e embora o fenómeno entre num contexto particular e próprio, devo lembrar-lhe que Herberto Helder vende muitíssimo...

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  4. O Herberto é um caso peculiar. Entrou na moda há muito tempo, a Academia finge gostar muito dele, e é fácil apreciar-lhe o lado mais obscuro (ele próprio gozava isso, a certa altura, não recordo onde). E há, além disso, na poesia dele um certo tom encantatório que dispensa a «apreensão» de qualquer «sentido».

    Outro aspecto a ter em conta é que muita gente lhe compra os livros por duas razões muito extra-literárias: porque está consagrado (passa a ser daquelas coisas que fica sempre bem comprar e mostrar na estante) e porque a compra é um bom investimento (dada a cotação bibliográfica que ele já tem, e que previsivelmente virá a ter ainda mais).

    Enfim, o caso Herberto é um «case study» e discuti-lo dava pano para mangas...


    Boa tarde

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    1. De qualquer modo, não sendo um poeta fácil e para usar a sua bitola (em relação a Celan), H. H. é o nosso grande poeta português, vivo.
      Uma boa tarde!

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  5. Plenamente de acordo. (Mesmo mortos, será preciso recuar muito...)

    Boa tarde

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