Eu não me sinto muito à vontade na filosofia. É sabido que não a podemos evitar, e que não se pode abrir a boca sem lhe pagar algum tributo. Como é que nos poderemos defender quando ela própria não nos consegue esclarecer completamente sobre aquilo que ela é? (...) Mas eu sinto-me na filosofia como um bárbaro se sentia em Atenas, onde reconhecia os preciosos objectos do cenário e tudo aquilo que havia de mais respeitável; mas no meio dos quais ele se perturbava, experimentava algum aborrecimento, misto de incómodo e veneração, e de fé supersticiosa, mas acompanhados por vontades incontroláveis de destruir tudo ou lançar fogo a tantas maravilhas misteriosas, e de que ele não conseguia reconhecer nada de semelhante na sua alma.
Paul Valéry, in Variété II (pgs. 16/7).
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