O acidental, o superficial e as suas mais vivas variações excitam, iluminam o que há de mais profundo e de constante numa pessoa verdadeiramente destinada aos altos voos espirituais. Tem-se prazer na independência da alma e no gozo de existir para ver melhor e mais claramente. Tudo aproveita à consciência organizada. Tudo se destaca, tudo converge; ela nada recusa. Quanto mais ela absorve ou se reflecte das relações, tanto mais ela se reforça em si mesma e ainda mais se liberta e dilui. Um espírito inteiramente religado será bem, até ao seu limite, um espírito infinitamente livre, uma vez que a liberdade não é, em suma, senão o uso e fruição do possível, e que a essência do espírito é um desejo de coincidir com o seu todo.
Paul Valéry, in Variété II (pg. 15).
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