Não seria tarefa fácil, em tempos antigos, para um pintor, manter a estima dos seus mecenas régios, ao retratar as filhas e princesas casadouras. E, isto, porque normalmente o noivo, antes de se comprometer, em definitivo, pedia ao eventual e futuro sogro que lhe enviasse o retrato pintado da pretendida. Tal facto poderá ser visto sob diversas perspectivas: se a noiva fosse feia, a tentação, para o artista, seria aformoseá-la para agradar ao pai-mecenas e convencer o futuro noivo; mas incorreria, certamente, na fúria futura do pretendente régio, quando descobrisse o logro e o estratagema para o convencer a casar, quando visse, ao vivo, a princesa...
Hans Holbein (1497-1543), ao que parece, era intransigente: se a princesa era feia, feia a retratava. Mas nem todos os pintores assim procediam.
A terceira mulher do nosso D. Manuel I, Leonor de Áustria (1498-1558), irmã mais velha de Carlos V, que, além de rainha de Portugal, o foi também de França quando, depois de enviuvar, se consorciou com Francisco I, em 1531, foi retratada por várias vezes e por diversos pintores. O retrato, que encima este poste, foi executado por Joos von Cleve (1485-1541), por volta de 1530, e antes de Leonor se ter casado com o rei de França. E é possível que Francisco I o tivesse visto, antes do casamento. Não sei, também, se o Venturoso requereu um retrato da irmã de Carlos V, antes de tomar uma decisão. Devo lembrar que, a princípio, ela fora escolhida para noiva de D. João III, mas o rei viúvo enamorou-se dela, e foi ele que a desposou...
Mas D. Manuel I era arguto e pediu informações a quem confiava, sobre a fisionomia, maneira de ser, e aspecto de Leonor de Áustria. O nosso embaixador em Espanha, Pedro Correia, escreveu-lhe assim:
"...Madama Leonor não é muito formosa, nem lhe podem chamar feia; tem boa graça e bom despejo, e julgo-a de condição branda e avisada; não tem bons dentes, é pequena de corpo, parecendo-o ainda mais porque usa chapins só da altura de dois dedos; e é grande dançadeira."
Era um diplomata, este Pedro Correia!...
D. Manuel I devia ser como aqueles putos que olham sempre para o prato do vizinho,..
ResponderEliminarAndo a ler uma biografia de Isabel de Portugal, mulher de Carlos V, que todos diziam ser belíssima.
Sem dúvida que era um Gémeos guloso..:-))
EliminarPelo retrato de Ticiano, era bem bonita.
Aproveito para a cumprimentar pelo belo logotipo que escolheu! Simples e agradável.
Bom dia!
Obrigada! :)
EliminarGostei de tudo, aprendi muito, e achei engraçado o facto de ela não ter bons dentes. Na verdade, julgo que até tempos bem recentes devia haver muita gente que não podia sorrir para os retratos e depois para as fotografias. Bom dia!
ResponderEliminarObrigado pelas suas palavras, Margarida.
EliminarE, já agora, vou estender-me mais um bocadinho. Ao que parece e com orgulho, Leonor de Áustria atribuia a fraca dentadura à estirpe dos Habsburgos. Até descobrir, numa trasladação (?) a que assistiu, que Maria de Borgonha (de ascendência portuguesa) sofria do mesmo mal. E Brantôme (em "Dames Galantes") refere que Leonor terá dito:
"Ha! Je pensays que nous tenismes nos bouches de ceux d'Autriche, mays, à ce que je voys, nous les tenons de Marie de Bourgogne, et d'autres ducs de Bourgogne, nos ayeuls. Si je voys jamais l'Empereur (Carlos V) je luy diray!"
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarO que significa "bom despejo"? Nunca tinha ouvido ou lido esta expressão. Será conversa agradável/interessante?
ResponderEliminarGostei muito deste post.
Boa tarde!
Folgo que tenha gostado do poste, Sandra.
EliminarCreio que, em relação a "despejo", teremos que nos orientar por entre: desenvoltura, intrepidez, desembaraço ou, mesmo, à-vontade.
Obrigada, APS. Gostei de aprender. :-)
ResponderEliminarBoa noite!
Boa noite para si, também!
EliminarDesconhecia. Obrigado.
ResponderEliminarFoi um gosto!...
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