terça-feira, 22 de julho de 2014

Retratos de noivas régias


Não seria tarefa fácil, em tempos antigos, para um pintor, manter a estima dos seus mecenas régios, ao retratar as filhas e princesas casadouras. E, isto, porque normalmente o noivo, antes de se comprometer, em definitivo, pedia ao eventual e futuro sogro que lhe enviasse o retrato pintado da pretendida. Tal facto poderá ser visto sob diversas perspectivas: se a noiva fosse feia, a tentação, para o artista, seria aformoseá-la para agradar ao pai-mecenas e convencer o futuro noivo; mas incorreria, certamente, na fúria futura do pretendente régio, quando descobrisse o logro e o estratagema para o convencer a casar, quando visse, ao vivo, a princesa...
Hans Holbein (1497-1543), ao que parece, era intransigente: se a princesa era feia, feia a retratava. Mas nem todos os pintores assim procediam.
A terceira mulher do nosso D. Manuel I, Leonor de Áustria (1498-1558), irmã mais velha de Carlos V, que, além de rainha de Portugal, o foi também de França quando, depois de enviuvar, se consorciou com Francisco I, em 1531, foi retratada por várias vezes e por diversos pintores. O retrato, que encima este poste, foi executado por Joos von Cleve (1485-1541), por volta de 1530, e antes de Leonor se ter casado com o rei de França. E é possível que Francisco I o tivesse visto, antes do casamento. Não sei, também, se o Venturoso requereu um retrato da irmã de Carlos V, antes de tomar uma decisão. Devo lembrar que, a princípio, ela fora escolhida para noiva de D. João III, mas o rei viúvo enamorou-se dela, e foi ele que a desposou...
Mas D. Manuel I era arguto e pediu informações a  quem confiava, sobre a fisionomia, maneira de ser, e aspecto de Leonor de Áustria. O nosso embaixador em Espanha, Pedro Correia, escreveu-lhe assim:
"...Madama Leonor não é muito formosa, nem lhe podem chamar feia; tem boa graça e bom despejo, e julgo-a de condição branda e avisada; não tem bons dentes, é pequena de corpo, parecendo-o ainda mais porque usa chapins só da altura de dois dedos; e é grande dançadeira."
Era um diplomata, este Pedro Correia!...

12 comentários:

  1. D. Manuel I devia ser como aqueles putos que olham sempre para o prato do vizinho,..
    Ando a ler uma biografia de Isabel de Portugal, mulher de Carlos V, que todos diziam ser belíssima.

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    1. Sem dúvida que era um Gémeos guloso..:-))
      Pelo retrato de Ticiano, era bem bonita.
      Aproveito para a cumprimentar pelo belo logotipo que escolheu! Simples e agradável.
      Bom dia!

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  2. Gostei de tudo, aprendi muito, e achei engraçado o facto de ela não ter bons dentes. Na verdade, julgo que até tempos bem recentes devia haver muita gente que não podia sorrir para os retratos e depois para as fotografias. Bom dia!

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    1. Obrigado pelas suas palavras, Margarida.
      E, já agora, vou estender-me mais um bocadinho. Ao que parece e com orgulho, Leonor de Áustria atribuia a fraca dentadura à estirpe dos Habsburgos. Até descobrir, numa trasladação (?) a que assistiu, que Maria de Borgonha (de ascendência portuguesa) sofria do mesmo mal. E Brantôme (em "Dames Galantes") refere que Leonor terá dito:
      "Ha! Je pensays que nous tenismes nos bouches de ceux d'Autriche, mays, à ce que je voys, nous les tenons de Marie de Bourgogne, et d'autres ducs de Bourgogne, nos ayeuls. Si je voys jamais l'Empereur (Carlos V) je luy diray!"

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. O que significa "bom despejo"? Nunca tinha ouvido ou lido esta expressão. Será conversa agradável/interessante?
    Gostei muito deste post.
    Boa tarde!

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    1. Folgo que tenha gostado do poste, Sandra.
      Creio que, em relação a "despejo", teremos que nos orientar por entre: desenvoltura, intrepidez, desembaraço ou, mesmo, à-vontade.

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  5. Obrigada, APS. Gostei de aprender. :-)
    Boa noite!

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