sexta-feira, 4 de julho de 2014

Uma explicação de Camilo


Não tendo a raridade de "A Infanta Capelista", a primeira edição do romance camiliano "A Caveira da Martyr" não é muito frequente aparecer em leilões ou alfarrabistas. A última vez que a vi à venda, o alfarrabista pedia pelos três volumes 150 euros. A obra foi publicada pela Livraria Editora de Mattos Moreira & Cª. (Lisboa), nos anos de 1875/6, mas, pouco depois, retirada de venda. Daí a sua raridade, que Camilo explicou, posteriormente, numa crónica bem humorada, do jornal Correio da Manhã. O texto segue:
"A «Caveira da Martyr» foi tirada das livrarias não por conter peçonha de impiedade que derrancasse as profundas ideias religiosas que lavram no espírito público, nem tão pouco por ataque ao pudor virginal, que é ainda uma cousa que conserva a virgindade até muito tarde. O romance foi retirado pelo seu proprietario, pessoa honrada, mas escrupulosa até ao extremo de suspeitar que seria irreligioso um livro onde se pintavam no mosteiro de Odivellas algumas freiras frageis em amor e uma d'ellas amante de el-rei D. João V. A historia contára isto; e o romancista cuidou que lhe não corria o dever de guardar aos maus costumes das bernardas de Odivellas acatamento mais reverencioso que o dos historiadores. O editor expoz os seus escrupulos ao auctor, que lh'os respeitou e consentiu que os tres tomos fossem queimados, tirando a salvo que o não queimassem a elle. O romance mereceu providencialmente o destino ardente que teve, não porque fosse impio, mas porque era uma composição ordinaria, com alguns adjectivos velhos dos antigos processos."

4 comentários:

  1. Apesar das nuvens, também lhe desejo um bom fim-de-semana!..:-)

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  2. A Infanta Capelista li há relativamente poucos anos, mas A caveira da mártir li há tantos anos que já nem me lembro.
    Há uns tempos que penso em reler algumas das obras de Camilo, um autor que aprecio demais. Talvez este verão...

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    1. É, como a MR muito bem sabe, quase sempre recompensador ler (ou reler) Camilo.

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