sábado, 5 de julho de 2014

Divagações 69


De algum modo, o museu é, à partida, um dogma. Um dogma estético, de que não contestamos as inclusões e, apenas, quando muito, os sentimentos ou emoções iniciais que presidiram às escolhas. Até porque escolher é, também, excluir. E, porventura, nesse tímido questionar já somos servidos de manifestar opinião: gostar ou não gostar. Pelo interior do dogma se insinua, de novo, a emoção e o sentimento.
A mais antiga memória que tenho de um museu, é de uma peça metálica e brilhante. Uma armadura antiga perfurada por balas: 3 ou quatro buracos que davam para o interior escuro. Foi isto na infância e terá sido em Espanha (Escorial, Museo del Ejercito?). A criança imaginou o fragor da batalha, em que o homem, dentro da sua armadura, foi ferido de morte pelas balas inimigas. A realidade era, porém, bem outra: embora antiga, a armadura, fora atingida por balas da Guerra Civil de Espanha, quando os nacionalistas atacaram os rojos que estavam acantonados no edifício. Nessa altura, não havia homem por dentro da armadura.
Um museu é um dogma.

6 comentários:

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  2. Acho que por vezes contestamos as inclusões. Ou pelo menos as exclusões, quando há reservas e certas obras não estão expostas.
    Sempre visitei muitos museus e exposições desde criança, mas não tenho nenhuma memória muito antiga de museu. Mas tenho da sala da Sociedade Nacional de Belas Artes. E muito presente.

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  3. Às vezes até achamos os museus demasiado cheios e seria melhor retirarem algumas das peças para que as outras se vissem melhor.

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    1. Eu creio que só em adultos, e na maturidade, temos coragem de contestar. Há pouco tempo, e até falei disso no Arpose (7/6/12), insurgi-me contra a selecção escassa e, nalgumas opções, indigente, da "mostra" do MNAC.
      Mas, concordo, um museu pequeno é sempre melhor. Conseguimos, talvez, surpreender o seu "fio conductor" e contê-lo, quase, numa dimensão afectiva. Além de o ver com mais atenção.

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  4. Muito interessante, gostei imenso. Bom Domingo!

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    1. Muito obrigado, Margarida.
      Um bom domingo, também!

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