O tema não interessará a muita gente, mas para mim é importante, porque aborda o problema da tradução em poesia.
Um livro de poemas de Octavio Paz (1914-1998), traduzido para inglês por Eliot Weinberger (1949), teve, no TLS de 12 de Julho, uma recensão crítica desfavorável por parte de Dominic Moran. Nessa crítica, eram postas em causa algumas opções de Weinberger, no seu trabalho de tradutor. No penúltimo TLS (nº 5756), aparece uma carta ao director (em imagem), em que E. W. diz das suas razões. Passo a traduzir a parte mais significativa:
"...O vosso indignado correspondente Dominic Moran (Julho 12), por exemplo, pensa que eu não sei a diferença entre "coxa" e "perna". Eu sei, mas estava a traduzir um longo poema de Octavio Paz, não estava a escrever um dicionário bilingue, e as palavras que escolhi tinham o objectivo de servir uma estrutura específica de som e ideias e imagens. O seu sucesso ou falhanço como tradução não se baseia em palavras isoladas tiradas do contexto, mas numa rede de conexões entre todas as palavras.
Além disso, o vosso correspondente aparentemente crê que o artigo definido e o indefinido têm o mesmo peso no Espanhol como no Inglês: se eles aparecem ou não aparecem no Espanhol, deveriam aparecer ou não aparecer na tradução Inglesa. Na verdade, este é um dos problemas mais difíceis ao traduzir poesia Espanhola. Pelo menos metade do meu tempo é gasto a tirá-los, a voltar a pô-los, e a voltar a retirá-los. (...) As palavras mais pequenas são as mais difíceis. Qualquer pessoa consegue traduzir substantivos, sejam eles coxa ou perna."
Muito bem argumentado e exemplificando bem o que são as dificuldades de tradução e o papel do tradutor, sobretudo de poesia. Eu raramente me meto nisso porque tenho tendência a ficar muito agarrada ao original, o que mata logo parte do efeito poético na língua de chegada... E hesito muito entre as diversas possibilidades, parece que nenhuma me satisfaz... Enfim, é melhor deixar tal tarefa a quem a desempenha com mestria, como é o seu caso ;)
ResponderEliminarBoa noite
É uma grande verdade a dificuldade que às vezes se coloca com os artigos e, mesmo, com as preposições. E quase sempre os pequenos poemas são os mais difíceis de transpor para outra língua. Mas não deixa de ser um desafio que me dá gosto, sobretudo, quando se trata de um bom poema.
ResponderEliminarBoa noite!
Kavafy está traduzido para português por Jorge de Sena e por Joaquim Manuel Magalhães. Dizem (não sei) que as traduções deste são mais fieis, mas eu prefiro de longe as de Jorge de Sena.
ResponderEliminarMagalhães teve o cuidado de não voltar a traduzir aquilo que Sena já tinha vertido para português. E Sena tinha uma "consciência" poética mais ampla...
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