Nas minhas primeiras viagens, em Portugal, desconhecia
aquela que considero a “obra prima” de Almeida Garrett e, também, da Literatura
Portuguesa. Certamente não teria, na altura, capacidade para avaliar o seu engenho
literário.
Identifico-me, contudo, com os tempos em que as viagens
permitiam conhecer lugares insólitos, costumes diferentes, a Cultura e a
História, que estimulavam o pensamento – sobre nós e os “outros” – e nos
deixavam fisicamente exaustos ao fim do dia, mas com o “papo cheio” de
espírito.
Uma aventura memorável, em finais de Setembro e no fim da
época das travessias, foi uma passagem de barco, com cheiro a naufrágio, de
Peniche até às Berlengas. A demorada travessia obrigou a uma montagem da tenda
ao lusco-fusco, no planalto da ilha, numa “covinha” aconchegada. Ao acordar,
houve tempo para apreciar a natureza, mas, sobretudo, para dominar o susto ao
verificar que a tenda tinha sido montada junto de um precipício.
No entanto, e no final do tema dedicado às férias, fica a
noção da evolução do conceito de “viagens” – como forma de enriquecimento
intelectual e pessoal – para uma vertente perniciosa de “turismo”, economicista
e contabilística.
Com efeito, prefiro as “Viagens na minha Terra” e, como Garrett,
“amo a Charneca” quando passo perto de Santarém. E, na passagem pela planície
ribatejana, volto a pensar no engenho de sua obra. O aparente sub-género
litarário de viagens, reúne, numa construção sem precedentes, o dramático,
narrativo e poético, confundindo os nossos sentidos como é próprio da
sinestesia.
É obra !
Post de HMJ
Fui às Berlengas uma única vez para nunca mais. O local e maravilhoso, mas a viagem era uma aventura inesquecível... :-)))
ResponderEliminarAssim que o barco partiu de Peniche, uma francesa enchilicada estendeu-se no chão: vomitava ela e o cão...
Quanto às Viagens na minha terra só as apreciei devidamente quando as voltei a ler em 1999. Quando li o livro no liceu, odiei.
Para MR:
ResponderEliminarpois, da travessia não adiantei mais pormenores, muito semelhantes. Para mim, também fica a memória.
De facto, a leitura das "Viagens" precisa de um apoio muito exigente. Caso contrário será um desastre.