domingo, 4 de agosto de 2013

A par e passo 52


O generoso, o «nobre», o heróico, repousam sempre sob uma obscuridade, e até mesmo uma casa nobre é aquela que se perde nas origens, convive com a lenda, descende autenticamente de grandes seres que não existiram. Não se vêem claramente os ascendentes.
Tudo o que é belo, generoso, heróico, é obscuro na sua essência, incompreensível. Tudo aquilo que é grande deve ser incomensurável.
E isto entra na definição própria dos seus efeitos.
Se o herói fosse límpido, e à sua maneira, não o seria. Quem jura fidelidade à clareza, renuncia assim a ser herói.

Paul Valéry, in Tel Quel II (pg. 267).

2 comentários:

  1. Tudo é incompreensível e profundo e por isso mesmo generoso e belo e infinito.

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  2. Embora por aqui, Valéry acabe por fazer um apelo à clareza, dissimuladamente.

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