Há poesias assim, muito próximas do ar do tempo, muito inseridas no presente, muito inclusivas. Muito a gosto, como os vinhos, prontos para agradar à epoca, de José Neiva (DFJ). Ou que me fazem lembrar os poemas quotidianos de António Reis (1927-1991), que tanto sucesso (efémero) tiveram, pela novidade, nos anos cinquenta/sessenta; ou os primeiros livros de poesia de João Luís Barreto Guimarães (1967), tão berrantemente novos e frescos, nos anos 80/90. Mas, depois, há a espuma dos dias, os poetas decalcam-se e acabam por já não ter nada para dizer. E a gente aborrece-se a ler sempre as mesmas palavras, os técnicos ardis, os serôdios caminhos já muito calcorreados, cheios de pegadas antigas...
Mas demos, sem cinismos, o benefício da dúvida a este "Como uma flor de plástico na montra de um talho" (Assírio e Alvim, 2013), de Golgona Anghel (1986?), que li, pronto e sem fastio. Não dará para recomendar, mas justifica que se lhe dê notícia. E até se transcreva um poema:
Ninguém recusa uma boca rica,
nem mesmo quando ataca, de perto,
com aquela pedalada de puto esperto
que bebeu mais coca-cola do que devia.
Não está tudo perdido:
a chuva alinha o tempo nas goteiras.
Daqui a quatro anos vou ser formada
em copos vazios,
olheiras
e cadeiras molhadas.
O céu abrir-se-á
como um par de calções
num parque de estacionamento.
Não conhecia e gostei.
ResponderEliminarLê-se muito bem, é o que posso dizer.
ResponderEliminarUm bom domingo!