Enquanto a lua sobe, em círculo perfeito, horizontal o casario ribeirinho imóvel se mantém sobre as águas nocturnas do Tejo. Há um espelho pressentido e líquido que não reflecte nada, porque o azul é profundo, escuro, e só poderá ser quebrado pela imaginação. O silêncio, não fosse o ar estar limpo, não deixaria que algumas vozes, raras, incomodassem a noite.
Do livro sobre a pintura de Fra Angelico (c. 1395-1455) que li a eito, nos últimos dias, ressuma das imagens uma escassez essencial, que despreza o acessório e o secundário, para sublinhar o mais humano, ou o sagrado. Há nas suas tábuas ou murais, um rente ao dizer (Eugénio de Andrade), que me fascina, como se o íntimo prémio e a generosa dádiva estivesse - e estaria para ele - no além-Terra.
A rudeza nua da paisagem, que lembra alguns quadros de Hogan (1914-1988) sobre Monsanto, antigo, quase incomodam. São, pelo menos, pinceladas avaras e cruéis, sobre o campo italiano que, dificilmente e mesmo no século XV, seria tão ermo e tão despovoado de vegetação. Porque são raras as paisagens frondosas nos quadros de Fra Angelico.
O que é que ele, simples, concentrado e essencial, nos quereria dizer?
O primeiro comentário, que me ocorreu, quando acabei de olhar o quadro: o mundo é sofrimento!
ResponderEliminarRepare-se que o espaço onde permanecem os "puros" existem plantas... onde jazem os "mártires" está terreno seco... e o seco espalha-se a toda a restante paisagem, excepto nos limites da cidade de onde saem os "puros".
Será que é biográfico??
O quadro, inspirado pela lenda dos irmãos gémeos S. Cosme e S. Damião, não chega a ser descriptado, na sua simbologia secundária e envolvente, por Christopher Lloyd ("Fra Angelico", Phaidon, 1992). É referido apenas que os 5 ciprestes, de algum modo, representam os cinco executados.
ResponderEliminarMas só foram executados três; os outros dois, os outros dois "santos", que ficaram no terreno com flores, não foram executados, pois são os futuros S. Cosme e S. Damião. Cortaram as "ervas daninhas" para que as "puras" florescessem sem secar os campos....
ResponderEliminarAdora tentar descobrir as histórias que cada quadro nos quer contar... mas é preciso saber bem a história para descortinar a mensagem... e eu ainda sou um puro ignorante!
Este comentário foi removido pelo autor.
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ResponderEliminarObrigado, JAD, pelas suas pertinentes achegas e intuições oportunas.
ResponderEliminarAdora = Adoro (no comentário das 16:22). Os dois apagados eram duplicados criados pelo sistema.
ResponderEliminarUmas vezes não publica (como aconteceu com o do PRESTO e o do dia Mundial da Fotografia) outras duplica, simplesmente... mas como é de Borba.... :-) isto é, Borla...!
Não se preocupe, porque a mim também me acontece.
ResponderEliminarAlém disso, a duplicação é como um sublinhado - reforça a ideia..:-))
Uma boa noite, para si!
Desde miúda que este pintor me fascina: as cores, o modo como ele pintava as figuras e as paisagens... Porque eu não sou fã de temas religiosos...
ResponderEliminarEra um dos meus pintores preferidos, na adolescência, com o Botticceli...
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