domingo, 18 de agosto de 2013

Férias 5: Conhecer a Escandinávia via "InterRail"




Embora não sendo adepta de “ajuntamentos forçados”, sempre considerei que as Pousadas de Juventude permitiam, na altura e sem a recente profusão de “Hostels”, um conhecimento do país de origem, e até do estrangeiro, numa fase em que a autonomia financeira era ainda inexistente ou muito reduzida.
Quando surgiu, pois, o programa “InterRail”, possibilitando a compra e um “bilhete único” de comboio para percorrer a Europa, considero que se juntou o útil ao agradável. Com efeito, e segundo uma receita anterior, escolhi para férias a Escandinávia, aproveitando os relatos e as “dicas” de amigos que a tinham visitado no ano anterior. Como sempre gostei de mapas – até para fazer viagens imaginárias – tracei o meu plano em função da rede ferroviária da Escandinávia, das Pousadas de Juventude disponíveis e o orçamento previsto.
Parti, sozinha, de Colónia com uma primeira paragem em Copenhaga, de que não ficou grande memória, para além da ambiência - pós-68 ou alternativa – que já conhecia de uma visita a Amesterdão. A diferença de “tomo” deu-se com a passagem de barco para a Noruega. Gostei de Oslo e ficou-me para sempre o espaço e o museu dedicado à obra de Edvard Munch.


Do comboio, que seguia em direcção a Narvik, passando o círculo polar, saí várias vezes em diversas localidades. Como o “cartão InterRail” permitia saídas e entradas ao nosso gosto, desde que fosse numa continuação do trajecto, estabeleci ca. de 4-5 horas de comboio para me apear, conhecer terras novas e localizar o “poiso nocturno”. Ao partir de Oslo, no Verão, achei estranho que a locomotiva levasse um dispositivo para afastar a neve, mas, ainda antes de chegar ao círculo polar, tive umas curtas férias na neve, se não me engano perto de Mosjøen. No entanto, o mais insólito, sobretudo para os que passeiam sem o conhecimento da História, esperava-me em Narvik. O chamado “pai” da Pousada, assim que viu o meu passaporte germânico, calou-se sem mais palavras, lembrando-se, certamente, das batalhas do exército alemão durante a 2ª Guerra Mundial. Para além deste episódio, tirei uma foto com as distâncias geográficas, semelhante à imagem seguinte.



Saí de Narvik, passando para a Suécia via Kiruna, entrei na Lapónia e parei em Luleå. A Pousada de Juventude eram umas casinhas de madeira, no meio da floresta, como demonstra a imagem seguinte. Apercebi-me, depois, que devia ser a única hóspede, já que não me cruzei com mais nenhum ocupante.


Aliás, desde a entrada na Noruega, tinha-me habituado a falar muito pouco, porque os habitantes do Norte são mais discretos na conversa, habituados como estão à solidão em espaços pouco habitados. Assim, no dia de partida da Lapónia, dei com um espectáculo memorável. Uma família italiana, pai, mãe e duas criaturas, estavam no cais a tentar entrar no comboio, com a habitual algazarra do Sul. A tarefa de entrar estava bastante dificultada, porque, atado à mochila, tinha o pai umas hastes de uma Rena.  Bela recordação ! O senhor nem entrava de frente, nem de lado, apesar dos empurrões e gritos da mulher e perante o ar calmo e silencioso do revisor. Da Lapónia ficou-me, portanto, esta lição das diferenças entre os povos do Norte e do Sul.

Parei, ainda, na cidade universitária de Uppsala antes de chegar a Estocolmo. Como o dinheiro já era pouco, porque a Suécia era, e é como julgo, um país caríssimo, não aproveitei, na altura, para ir de barco até à Finlândia. Ainda hoje tenho pena, porque completava um círculo que, assim, ficou incompleto. Apanhei o barco, no regresso, em Malmö, onde tive oportunidade para conviver com uma família sueca.

Convém, no entanto, sublinhar que a convivência com os povos nórdicos se reduz ao essencial da palavra. Foram, portanto, umas férias para apreciar a natureza, a estética das cidades, pouco palavrosas e numa aprendizagem imensa do supremo bem da solidão.

Post de HMJ

13 comentários:

  1. E como diz um amigo meu, que é músico: o silêncio, por vezes, também é música!

    Fico sempre consternado quando, na mudança de andamento, numa sinfonia, as pessoas aproveitam para fazer bastante barulho.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Também não conheço a Finlândia, mas tenho pena.
    O povo norueguês é o povo mais 'cívico' que conheço. Pelo menos foi o que achei nas três semanas que lá estive no final nos anos 80. Mas era tudo caríssimo para nós.
    Gostei imenso de Oslo, de Bergen e do que vi da Noruega.
    Só fui à Suécia no início dos anos 2000 e já não achei aquela diferença de preços... Portugal estava bastante diferente nesse ponto de vista e noutros.

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  4. Para JAD e MR:
    Então já somos três que não conhecem a Finlândia !

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  5. Errata ao comentário anterior:
    onde se lê: conhecem, deve ler-se: conhecemos.

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  6. Então vamos organizar uma viagem?

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  7. Gostei muito do seu relato!

    (Também não conheço a Finlândia...nem a Suécia...nem a Lapónia...nem a Noruega...nem...)

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  8. Para JAD:
    Já não tenho tempo para grandes viagens!

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  9. Para Isabel:
    Ainda bem que gostou. São aventuras de juventude !

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  10. Para a Helga

    Tempo é a única coisa que é nosso. Saber gerir o tempo é que é um sarilho. Mas como vou ter muito tempo, quando passar para o outro estado (contrário à vida), quero usar (quase escrevi gastar) todo o tempo que tiver, fazendo coisas úteis e outras inúteis, mas que me dão prazer. Voar e viajar (isto é, tirar os pés do solo habitual) é um dos meus prazeres... mas tenho muitos!

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  11. Para JAD:
    Era do "outro $tempo" que estava a falar.

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  12. Ah! Então é quando se tiver tempo... No ano do São Nunca.

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