sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Férias 1





O tema, propício ao início do mês de Agosto, tem surgido nos jornais e também nos “blogues”, designadamente com recordações de férias passadas em contextos sociais distintos, épocas históricas diferentes e, até, espaços geográficos mais alargados.
A leitura dos vários textos, portugueses e alemães, sobre as férias passadas na década de 50 ou 60 do século passado, por crianças e jovens, permitiu avivar algumas recordações, nem sempre positivas, e, sobretudo, concluir que a “indústria do turismo” globalizou e uniformizou os gostos e as experiências, como é próprio deste mal sistémico que vivemos.
Por um lado, há um mês de Agosto passado numa Póvoa de Varzim, ou uma Figueira, em espaços e com vivências que já não existem como as pessoas os recordam. Na Alemanha, em finais dos anos 50 do século passado, a época de férias não correspondia a uma saída do local de residência habitual. A construção do chamado “milagre alemão” concentrava-se na reconstrução das casas destruídas pela guerra. Surgiu, então, na altura a ideia de arranjar um divertimento para as crianças e jovens, como eu, enviando-os para umas férias perto de casa – as “Colónias de Férias” portuguesas chamavam-se, em alemão – “Stadtranderholung” [i.e., umas férias nas cercanias da cidade onde se vivia]. Assim fui eu, provavelmente numa camioneta como a que se reproduz na imagem, para uma convivência cheia de actividade e lazer, afastada do meu espaço, das minhas referências e dos meus afectos.
Não duvido da generosidade dos meus pais, nem dos “assistentes sociais”, ao tentarem proporcionar-me umas férias diferentes e divertidas, uma vez que os seus afazeres não permitiam passear comigo.
Lembro-me, vagamente, de actividades como as que a foto seguinte recupera, refeições em mesas enormes e com pessoas que não me diziam nada, para além de dormir em tendas, ou seja, aguentar horas sem fim num espaço inóspito para mim.



Numa dessas actividades, lembro-me de correr, num terreno íngreme, no meio dum bosque. Não consegui travar e bati numa árvore. Acordei em cima duma maca e com um alívio profundo. Era necessário devolverem-me à procedência. Que felicidade !

Portanto, de umas primeiras férias “de convivência e socialização”, recolhi uma certeza para o resto da minha vida. A “socialização forçada”, que há algum tempo a esta parte até consta da avaliação escolar, pode ser um presente envenenado. O respeito pela autonomia individual, que não se confunde com a responsabilidade social e cívica, é um bem escasso, como a defesa do nosso espaço, do nosso tempo e dos nossos gostos.

Post de HMJ

3 comentários:

  1. Nunca fui para colónias de férias. Não era usual em Portugal, no meu tempo. Não me parece que tivesse gostado.

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  2. Para Miss Tolstoi:
    pois não repeti a experiência.

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