sábado, 17 de agosto de 2013

A par e passo 54


Prazeres abstractos e concretos.
Prazer abstracto, o do proprietário: é uma ideia que se satisfaz em si mesma.
Prazer concreto, o do possuidor: é o seu acto e a sensação que fazem ter prazer.
Esta coisa é minha. Posso usá-la e abusá-la.
Esta coisa é para mim. Sinto-a, uso-a, abuso-a.
Uns fruem a posse, os outros o acto. Dos primeiros aos segundos, ambos parecem próximos; dos primeiros aos segundos, ambos parecem delapidar.
O avaro mais poeta que o pródigo.

Paul Valéry, in Tel Quel II (pg. 268).

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