sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Uma questão delicada


Prolongamento serôdio da silly season, a polémica Rui Ramos versus Manuel Loff, ameaça eternizar-se em minudências e actores menores em busca de protagonismo. O primeiro historiador tem mais adeptos, o segundo, menos defensores. E o jornal Público vai dando cobertura da Cruzada, ou dos folhetins desenxabidos da telenovela.
Em França, a polémica do momento é mais séria. A editora Pierre-Guillaume de Roux aceitou publicar, de Richard Millet (1953), editor da Gallimard, o livro "Langue Fantôme suivi d'Éloge littéraire d' Anders Breivik", onde se faz , de algum modo, o branqueamento e justificação do ogre de Oslo e seu massacre de jovens, referindo: "Breivik est ce que méritait la Norvége." Para além disso, a obra é xenófoba, e o autor, controverso, até pelo seu passado.
As posições gaulesas, intelectualmente, dividem-se, mas a grande maioria condena a decisão da Editora, por aceitar publicar o livro. E Céline vem à colação, bem como outros autores malditos. Censura ou liberdade plena de expressão? Predomínio da Ética ou amoralismo permissivo? É realmente uma questão maior e delicada, que se põe, em Democracia.
 No último Le Nouvel Observateur, o Nobel e escritor J. M. Le Clézio (1940) toma posição contra a publicação do livro, e escreve: "Au nom de quelle liberté d'expression, à quelles fins ou en vue de quel profit un esprit en pleine possession de ses moyens (du moins on le suppose) peut-il choisir d'écrire un texte aussi répugnant?".
Eis a questão - no fundo.

2 comentários:

  1. Primeiro, a nossa paróquia :) : Talvez não tenha sido a intenção do Manuel Loff, mas a verdade é que tornou-se finalmente um historiador conhecido, ainda que pelos piores motivos.
    Depois, a paróquia gaulesa: se a Noruega merecia Breivik, que merece a França... ? Parece-me um livro abjecto, mas sou radicalmente contra autos-de-fé...

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  2. Tem toda a razão, LB, Loff ficou conhecido, e a publicidade saíu-lhe barata... Quanto à abjecção francesa publicada, censurá-la também não era, abstractamente, o melhor. É bicudo, o caso e a escolha, nestes termos...

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