quarta-feira, 2 de julho de 2014

Politicamente incorrecto


Que fiquemos bem claros: é de saúdar a entrada de mais um poeta no Panteão Nacional. No caso vertente, Sophia Andresen.
Mas não deixo de me perguntar como se pode medir a importância simbólica de uma figura para um país e um povo, ou a cotação comparável da obra entre artistas diferentes. Ou, circunscrevendo, de poetas. Será menor o valor da poesia de Eugénio de Andrade ou a obra conjunta de Jorge de Sena? O Nobel, e algum reconhecimento internacional, garantirão, no futuro, homenagem semelhante a José Saramago? Tenho dúvidas. Há sempre anti-corpos de contemporaneidade que excluem, no presente, a isenta triagem das escolhas. E, por isso, defendo e prefiro que as opções se façam com distância e frieza, para escolher melhor.
Ao comum da terra português, tirando talvez Saramago, os nomes dos três poetas referidos acima, pouco ou nada dirão - creio. Tive, há pouco tempo, ocasião de verificar que Torga é tutelar na memória até de lavradores transmontanos. Mas parece-me uma excepção regionalista, que não chega para regra...
Os herdeiros de Eugénio malbarataram a herança e deram cabo da sua Fundação. Embora a viúva (Mécia de Sena) tenha protegido a obra do marido, os muitos filhos de Sena não se devem preocupar muito com a glorificação do Pai. Penso que não é assim com os descendentes de Sophia. De algum modo, ainda bem.
Ou, como diz o povo: "Mais vale cair em graça, do que ser engraçado."

6 comentários:

  1. Justíssimo.
    Posso partilhar isto via Facebook, ou prefere manter algum resguardo?

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  2. Obrigado.
    Sirva-se à vontade, meu Caro. Com muito gosto.

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  3. São mais os que estão fora do Panteão e estão injustamente esquecidos, do que aqueles que são lembrados. Eça..., Camilo..., Júlio Dinis... só para falar em três que todos os portugueses conhecem e continuam a ler. E os pintores, os médicos, os .....!
    Hoje muitos deram uma volta no túmulo. E eu li uma frase dita por Maria (filha de Sophia) que é de tão mau gosto: "Não sei se é boa ideia a trasladação porque não sei que futuro terá o Panteão... se é para irem para lá futebolistas. Só no futuro se poderá ter a certeza se foi ou não uma boa decisão" Diário de Notícias, 2.07.2014, p. 42

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    1. Se concordo que ainda se lê Eça e Camilo, quanto a Júlio Dinis não estou seguro.
      Não se pode esquecer que tudo isto se passa a um nível de elites, muito minoritário, como sempre foi, na sociedade portuguesa. A um nível transversal, só Amália dirá alguma coisa ao povo. E Eusébio, se para for parar ao Panteão.
      Daí se possam entender as "aristocráticas" palavras de Maria Andresen (que deixou cair, creio, o Tavares, do pai...).

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  4. Ontem tinha deixado um comentário que pelos vistos não 'publiquei' e que era mais ou menos isto: Homenagem merecida. Outros virão.
    Acho bem que entrem outros vultos da cultura, bem como da ciência, da política, etc.
    Acho que os franceses estão a fazer um bom trabalho nesse sentido.
    Quanto a Eça e Camilo, com certeza. Quanto a Júlio Dinis - e apesar de eu eu se uma sua grande leitora -, não sei.

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    1. É evidente que Sophia teve uns "empurrõezinhos"..:-)
      Mas não discordo, totalmente, embora julgue que seria mais saudável criar distância e tempo, para um julgamento racional, nas escolhas.

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