quarta-feira, 9 de julho de 2014

Das crónicas, estatísticas e retrocessos


Se a riqueza mundial fosse redistribuida equitativamente, caberia a cada ser humano um salário mensal de 760 euros. Mas, nos últimos 15 anos, o desequilíbrio acentuou-se bastante entre os muito ricos e os muito pobres, retrocedendo para as estatísticas injustas da Belle Époque.
Na sua crónica (O camião-fantasma) de hoje, no jornal Público, Rui Tavares refere a possibilidade de, no futuro, a profissão de camionista vir a desaparecer. Fundamenta essa hipótese no facto da Daimler e da Volvo estarem a testar camiões automáticos que prescindem da existência de condutores humanos. A profissão poderá, por isso, vir a tornar-se obsoleta.
Dá a ideia que as regras, objectivos e filosofia da Economia actual se pautam pela necessidade de substituir os humanos e, ao mesmo tempo, contribuir para o desemprego... É legítimo pensar no grande número de profissões que foram desaparecendo, durante o último século ou, pelo menos, foram reduzidas, drasticamente, em número de postos de trabalho.
Que me lembre, nos últimos 50/60 anos, só terão sido criadas 3 novas profissões: os CEO, os Editores e os Curadores, estas duas últimas relacionadas com a Cultura. Todas elas de topo e no sector dos Serviços.

9 comentários:

  1. Desde sempre que tenho esta impressão que o mundo avança inventando novas profissões, muitas desnecessárias, por pressão social (ai! o desemprego!) à medida que nós todos (e não apenas a "Economia atual") nos esforçamos por dispensar o trabalho humano. Gostamos, ou aceitamos, comprar em grandes superfícies ou na Internet, meter a nossa própria gasolina, pagar com o multibanco ou com a via verde, etc. Queremos mais coisas, e mais baratas, ao mesmo tempo que pressionamos para que o trabalho seja de cada vez mais bem remunerado.

    A alerta que Rui Tavares faz, no fundo, é alertar: portugueses, olhai que não estais preparados para estas "novas profissões"! Estudai mais e melhor!

    Acho a sua lista de novas profissões reduzida e pouco representativa, quiçá elitista (que tal?). Mais representativas parecem-me todas as (quantas delas absurdas) profissões no setor das novas tecnologias de comunicações, informática, Internet. Milhões de pessoas pelo mundo fora, de operadores de call center (bastante diferentes das anteriores e passivas telefonistas) a web designers, gestores de comunidades (redes sociais), etc. E também no setor financeiro-imobiliário (gestor de ativos futuros e derivados??).

    Mas tem razão: se excetuarmos os "jovens agricultores", profissão criada pelos fundos comunitários e reforçada pela crise, ou os técnicos de manutenção de equipamentos sofisticados - computadores, robôs industriais - as novas profissões são maioritariamente nos serviços.

    [Uma curiosidade: embora o termo se tenha tornado popular apenas nos anos setenta do século 20, as funções de um chief executive officer são bem mais antigas - o primeiro presidente da Ford Motor Company, John Simpson Gray (1903-1906), por exemplo, embora designado "presidente", já era realmente um CEO. Essa não será propriamente uma nova profissão].

    Enfim, este é um assunto que me fascina: o que faremos no futuro, nós os quase oito mil milhões de pessoas do Planeta Azul?

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    1. Tive consciência, quando o escrevi, que só 3 novas profissões era pouco, mas foi das que me lembrei, para além das novas "artes" que a informática e os computadores despoletaram (não sou grande conhecedor na matéria...). E até estive para falar dos Psicólogos que, pelo seu poder corporativo, exercem pressão e têm grande visibilidade social, mas pensei que a profissão era mais antiga. Bem como a dos Sociólogos.
      Porém, hoje, para arranjar um canalizador, um torneiro, um funileiro, é um bico de obra, para conseguir um profissional competente. As, antigamente chamadas "artes mecânicas" é que foram desaparecendo. E, muitas vezes, deita-se fora e compra-se novo, porque não há quem arranje.
      Também concordo com a teoria (já) de muitos que o "trabalho", no futuro, vai diminuir (A. Guerreiro fez, aqui há tempos uma bela crónica sobre o assunto), mas não para dar lugar ao "lazer", mas simplesmente ao desemprego. E aqui está o drama, para mim. Não creio que novas profissões venham a preencher o vazio que se vai criando nas antigas.
      Grato, meu caro Artur Costa, pela oportunidade deste estimulante diálogo.

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  2. Já há tempos que li algo sobre essas investigações sobre os camiões automáticos sem condutor. Faz-me um bocado de impressão, Serão mais seguros dos que os que são conduzidos por homens nas estradas?

    Acho que esse mundo utópico em que todos teriam um salário de €760,00 seria perfeito.

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  3. Concordo consigo. Oiço algumas pessoas por vezes a falar do tempo do Salazar em que haviam sempre trabalho. Só que se esquecem que grande parte desses trabalhos são hoje feitos por máquinas. Elas têm substituído as pessoas precisamente no caso de trabalhos que exigem muita mão de obra barata. E quanto mais avançar a robótica pior será... Não sei qual será a solução para tudo isto.

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    1. Pois é, Margarida, isto anda uma tristeza...
      Mas também há muita juventude que não se quer incomodar. Criticam tudo, e não votam. Mas também nem sequer têm coragem para uma "acção directa". Até já se cansaram de acampar no Rossio, para os 2 minutos de fama, na Tv. Inconsistência absoluta que, em muitos casos, é subsidiada pelo mecenato paterno...

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  4. Mais uma achega para a lista das novas profissões, os animadores pedagógicos/culturais.

    Num mundo ideal as pessoas podiam ter todas o mesmo salário, podia trabalhar-se apenas poucas horas por dia e todos trabalhariam, mas teriam tempo para "viver" - estar com a família, ler, realizar passatempos de que gostam...
    Era bom.

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    1. Obrigado por mais esta sugestão.
      Inicialmente o lazer era um objectivo de progresso social, só que os "magos" da economia conseguiram transformá-lo np pesadelo do desemprego, pervertendo o idealismo da intenção original.

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