quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Intervenção ou neutralidade?


O JL desta semana traz a capa que, parcialmente, reproduzimos e encima este poste. Vários escritores, com perspectivas ideológicas variadas, respondem na sua maioria, pelo mesmo diapasão, embora com pequenas diferenças de pormenor. Não me esqueço do sábio verso de Drummond: "...não faças poesia sobre acontecimentos..."; ou da prudente frase: "de boas intenções, está o Inferno cheio". No limbo do esquecimento jazem inúmeros poemas feitos à glória de Vasco Gonçalves, no PREC, de duvidosa qualidade proliferaram cânticos à morte de Che Guevara, só para citar dois exemplos. Mas a minha convicção é de que um artista não deve, nem pode, furtar-se ao seu tempo, e a tomar partido denunciando a injustiça e os dias funestos em que vive. E observo muitas vezes o comodismo e a neutralidade de muitos que assobiam para o lado, mantendo a porta aberta às eventuais benesses do Poder iníquo. Lamento-o, vivamente.
Sobre aspectos, não absolutamente convergentes, mas que se podem associar, li, ontem, no jornal Público, um artigo muito pertinente, de Alfredo Barroso, que passo a citar, parcialmente:
"...«O povo não come ideologia» é uma frase muito batida, normalmente utilizada pela direita ou por políticos oriundos da extrema-esquerda sempre em trânsito para a direita. É característica do pragmatismo sem princípios que tomou conta dos partidos socialistas, sociais-democratas e trabalhistas membros da Internacional Socialista, na última década do século passado, a partir da fracassada Terceira Via teorizada por Anthony Giddens e adoptada por Tony Blair, Gerhard Schroeder, António Guterres e tutti quanti por essa Europa fora. No fundo, não passou de uma conversão encapotada às delícias do neoliberalismo. Foi uma abdicação ideológica que os tornou comparsas da direita e reforçou o «rotativismo» no poder, com as mordomias que ele confere e os tachos que permite distribuir. ..."

2 comentários:

  1. Não me parece que António Guterres possa ser incluído nessa "tralha" da 3.ª via. Tony Blair, sim; foi o mentor, e de socialista ou social-democrata não tem nada.

    Quanto ao JL, comprei-o hoje e ainda não o abri.

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  2. Muito francamente, MR, não estou seguro de que Guterres esteja isento de culpa...

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