quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Da Janela do Aposento 28: Pensar




Como explicação assaz curiosa da imagem acima, verifica-se que o menino preenche uma folha, com exemplos em Castelhano, embora acompanhasse uma notícia sobre os resultados recentes de alunos portugueses em diversas áreas do saber. Para o efeito tanto importa, porque o mal é global e não exclusivamente português, porque falamos, certamente, de uma importação indevida e nociva, designadamente no que respeita ao essencial do ser humano.

Portanto, o acessório da imagem representa, em Português ou Castelhano, o grau zero da mobilidade manual e do aperfeiçoamento do movimento no desenho das letras, pousio indispensável ao desenvolvimento das ideias, ou seja, o domínio do exercício mecânico sobre a esfera do pensar.

Contrariando muitas almas caridosas, sempre rejeitei e não aceito, testes de importação, “à americana”, “de cruzinhas”, de “escolhas múltiplas” e quejandos, sobretudo no ensino da língua e da literatura, pela matricial incapacidade de representar o universo infinito de combinação da Língua e, sobretudo, de pretender abarcar um universo tão vasto como a Literatura. Confesso que a importação pobre de “testes de escolha múltipla” facilita, e muito, o trabalho de correcção, aumenta a estatística, sobretudo daqueles que, maioritariamente, apostam no factor “sorte” do ensino, em detrimento dos alunos que, com esforço, acham que vale a pena pensar antes de escrever.

E, à semelhança dos indigentes “exames de condução”, os testes “de escolha múltipla” costumam premiar os “sortudos” e penalizar os que pensam pela sua própria cabeça. Convenhamos que a Semântica e, sobretudo, a Pragmática não se esgotam numa simples frase fora do seu contexto. Desgraçados os que pensam pela sua cabeça e que, perante o beco sem saída do exemplo, frequentemente redutor, não podem escrever nem justificar as opções de um universo muito maior.

Assim, chegamos ao essencial do “post”. Ou seja, o lento abastardar das Ciências Humanas e, sobretudo, da Língua e da Literatura a um exercício contabilístico imediato, um “deve” e “haver” que, de todo, o pensamento, suportado por qualquer língua, rejeita.

Post de HMJ, recordando o Pensar, de Vergílio Ferreira.

2 comentários:

  1. Há muita coisa errada na Educação. Trabalha-se em primeiro lugar para os números. Atingir metas impossíveis, de sucesso, é o objectivo. E faz-se tudo para lá chegar.
    Enfim...
    Boa noite!

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  2. Para a Isabel:
    Pois é. Pôr as criaturas a pensar demora tempo.

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