A frequência continuada de obras de arte, poesia e, até, música, pode permitir-nos vislumbrar as cumplicidades, ligações, os movimentos progressivos, as "famílias" que se prolongam, sequencialmente, e onde, com pequenas variantes, avançam, mais ou menos ousadamente, os seus representantes, ao longo dos tempos. Normalmente, é um percurso cronológico a que assistimos. Mas também existe a sincronia, de que o caso mais flagrante - para mim, ignorante amador - é o dos pintores pré-rafaelitas ingleses que, num mimetismo de tiques, motivos e cores, dificilmente conseguimos distinguir uns dos outros.
Do uso das luzes, por Picasso, até aos néons de José de Guimarães, da luminosa sensualidade dos nus de Renoir, até às adolescentes de Pavia; da carne retalhada ou apodrecida, nas pinceladas violentas de Francis Bacon podemos, facilmente, chegar até à sombra tutelar de Chaim Soutine. Se não quisermos ir mais atrás. Teria existido Cesário, se antes não houvesse um Gomes Leal? Só que, por vezes, o discípulo vai muito mais longe e ultrapassa a lição do mestre.
Parecem-me raras as gerações espontâneas, em Arte. Raros, os artistas "sem família". E, se os encontramos ou julgamos ter descoberto, é porque não procurámos bastante. Ou não conhecemos o suficiente.
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