Aqui há uns anos, provocou alguma celeuma a decisão sobre a abertura do túmulo e devassa, para investigação científica (?), sobre o corpo do nosso primeiro rei, D. Afonso Henriques. A acção foi recusada, in extremis, pelo ministério da Cultura. A ter acontecido, ter-se-ia esclarecido a ideia que o Rei era de altura gigantesca, para a sua época, pois a lenda refere que teria mais de 1 metro e 80.
Os despojos de pessoas célebres sempre provocaram curiosidade humana. No entanto, para mim, as inúmeras múmias que se exibem no Museu Britânico provocam-me sentimentos desencontrados, onde entra uma certa repulsa pelo desrespeito e aberração pela exposição desses corpos, que deveriam merecer o silêncio e o repouso na sepultura de um cemitério, e não a exibição num museu. Mas os exemplos abundam: Tutankhamon, o corpo embalsamado de Lenine, o sangue de S. Gennaro (Nápoles), que se liquefaz de tempos a tempos, o corpo mumificado e escuro de S. Torcato, em redoma de vidro, na zona de Guimarães... Parece que a necrofilia paga bons dividendos.
Calhou agora a vez do corpo de Ricardo III (1452-1485), rei de Inglaterra, que andava desaparecido e foi descoberto por um grupo de arqueólogos, muito recentemente. As ossadas comprovaram a morte violenta que sofrera na batalha de Bosworth e a escoliose da coluna de que muitos autores - Shakespeare, nomeadamente - se fizeram eco. Teria valido a pena? Apetece-me concluir com o título de uma das peças do dramaturgo inglês: Much ado about nothing...
Creio que a descoberta das ossadas do Ricardo III foi acidental: estava enterrado no local onde vão construir um parque de estacionamento. Não havia, sequer, a certeza que fossem do rei. Apesar de tudo, é um pouco diferente de abrir um túmulo...
ResponderEliminarSobre o nosso Afonso Henriques, um amigo, arqueólogo, explicou-me, a propósito dessa ideia de abrir o túmulo dele, que depois das invasões francesas, não há certezas sobre coisa nenhuma e que, por isso, talvez seja melhor deixar tudo como está...
A informação que tenho diz-me que não terá sido totalmente acidental, muito embora (também referidas) as escavações tivessem fornecido a oportunidade. Havia 2 arqueólogos que tinham pistas sobre o local da exumação a fazer, que seria uma antiga igreja, soterrada, onde Ricardo III teria sido sepultado, na noite seguinte à batalha de Bosworth.
ResponderEliminarSobre os corpos dos nossos reis, não sabia, mas o seu amigo deve ter razão, pelo menos, até ao séc. XVIII.