sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Um poema de Fernando Guimarães (1928)


A água está imóvel. Sabemos que todos os dias espera
pela sede, mas aquela que nunca pertenceu
a nenhum de nós. A água ficou aí reflectida. Desce
pelo seu interior, procura devagar uma folha
que se tornou mais pesada. Um rumor atravessa-a
e nós escutamos como numa árvore se reunem as vozes
altas que procuram finalmente o que foi sentido
de um último desejo, quando a água em si mesma fica saciada.

Fernando Guimarães, in Lição de Trevas (2002).

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