Entre a recente imolação pelo fogo do desempregado francês de Nantes (que, se calhar, nunca foi ao Louvre, mas precisava de comer e alimentar a família), o diálogo fecundo, mas inconclusivo (no último "Obs."), entre Cohn-Bendit e Stéphane Hessel, e, finalmente, o lúcido artigo de Pacheco Pereira, sábado no "Público", o triângulo isósceles fecha-se irremediavelmente num beco. Sem saída, senão por recuo.
O mercenarismo de muitos políticos corruptos, o corporativismo extremo dos partidos políticos e o desespero dos cidadãos conscientes - eis as razões deste cul-de-sac espiritual que dá razões ao mais profundo dos pessimismos ontológicos actuais. E que poderá dar justificação a movimentos anárquicos agressivos, singulares ou colectivos, mas também permite, em terreno inculto, o temível desenvolvimento do populismo mais grosseiro (Berlusconi, por exemplo).
Se a imolação pelo fogo já pode ser, recentemente, global (Tunísia/ França), se 2 gerações (Hessel/ Cohn-Bendit), quase se irmanam, no sentimento de claustrofobia, como poderá o comum da terra manter a serenidade e clareza de espírito, para não começar a bombardear as paredes do beco, para não ter de recuar ainda mais?! Ou para ouvir, com paciência cristã, as perlengas do professor da TVI que, arengando de gravata, prega, como um clássico cura de aldeia, a resignação, em nome do reino dos céus, como recompensa, ao fim de tudo?
O mundo está assustador. Eu já evito ouvir notícias e já não suporto ouvir os comentadores - francamente já não aguento ouvir gente rica a dar conselhos aos pobres, gente que tem os filhos em caríssimas escolas privadas a dar palpites sobre a educação, etc. Por minha vontade, faria como Herculano e exilava-me - cada vez o compreendo melhor. A única diferença é que só me exilo se for para uma aldeia do interior, bem longe de Lisboa, com a minha família (marido e filhos). Dedicava-me à agricultura e à criação de galinhas, também de cães e gatos - e fazia de conta que isto tudo não existe.
ResponderEliminarE em Portugal, Margarida, torna-se um desencanto amargo, para viver, realmente. Os últimos dias "felizes" que vivi, recentemente, foram passados na Alemanha, entre Novembro e Dezembro, longe destes dias injustos portugueses, em que somos bombardeados com poucas-vergonhas, corrupções, injustiças, sobrevoados pelos sorrisos mediáticos desta "gentalha" reles. A não nos enganarmos a nós mesmos, não há mensagens ou palavras felizes para dizer...
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