terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mercearias Finas 69 : globalização, cavalos e batatas


Às vezes esquecemos que a primeira globalização, no séc. XVI sobretudo, contribuiu grandemente para o enriquecimento cultural, gastronómico e até para uma maior biodiversidade dos continentes. Por termos visto muitos filmes sobre o faroeste americano, temos dificuldade, por vezes, em lembrarmo-nos que os primeiros cavalos que pisaram o solo americano, foram levados da Europa, por Fernando Cortez.
Mas também recebemos em troca. Por exemplo a batata, que veio dos Andes e acabou por substituir as castanhas, no acompanhamento das refeições, em muitos países europeus. No entanto - e era aqui que eu queria chegar, para o dizer -, nunca, até há 15/20 anos atrás, me chegou ao prato batata de tão fraca qualidade como agora. Na maior parte dos casos, vem de França, para as grandes superfícies. Mesmo que a dividam em batata para cozer e batata para fritar e assar. Farinhentas, descoradas, insípidas - uma lástima...
Longe vai o tempo em que elas começavam a aparecer, primeiro, da Lourinhã e do Montijo, depois iam amadurecendo nas Beiras, até chegarem, finalmente, de Trás-os-Montes - bons tempos de produção nacional, porque a batata era, quase sempre, boa. Agora, só através de deslocações às terras saloias e por ofertas amigas, vindas de Constância ou da Lourinhã, temos o gosto de as saborear no seu sabor inteiro.
Claro que a França, com a parte de leão que recebe da PAC para a sua agricultura, pode bem vender o rebotalho da produção aos Santos e aos Belmiros, ao preço da uva mijona, para eles encherem os bolsos, depois, e as grandes superfícies de toneladas de péssima batata, para consumo do pagode luso.
E vem tudo isto a propósito porque, no domingo passado, dois magníficos linguados grelhados iam-se perdendo no meio de reles batatas cozidas, francesas... que acabamos por deixar no prato, quase todas.

8 comentários:

  1. Nunca tinha prestado atenção aos cavalos... Agora que os recordou, o que estava no mundo do esquecimento, voltou.

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  2. Quando aparecem as batatas novas, compro-as numa mercearia e são bastante boas. De resto, são miseráveis.

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  3. Faz sempre bem lembrar, JAD, e às vezes há destes cliques...

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  4. É o melhor, Miss Tolstoi; ou, então, nos mercados.

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  5. Nunca entendi o gosto de comer batatas cozidas ou as chamadas "a murro" com o peixe grelhado. Estragamos o sabor do linguado... Legumes ou (sacrilégio!) batata frita, eis o mix ideal.

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  6. Era, realmente, assim (fritas) na minha infância minhota, para acompanhar peixe frito ou grelhado. Mas o problema mantém-se, porque há batata (francesa?) frita, péssima. No almoço de domingo, valeu-nos uma boa couve-flor - que estava um regalo - para acompanhar os linguados.

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  7. Ainda hoje me lembrei dos malefícios deste tipo de globalização - nem tudo é mau, mas há tesouros que se vão perdendo. As batatas são um exemplo, mas tenho lamentado sobretudo as maçãs bravo esmolfe que eram pequenas e saborosas, agora são grandes e luzidias e sabem a água com açúcar... Deixei de as comprar. Quanto às batatas, fiquei com curiosidade do peixe com batatas fritas.

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  8. As batatatas fritas, quando boas, vão lindamente com peixe frito, principalmente, filetes de pescada. Vale a pena experimentar, Margarida. Das maçãs, isso que diz, é bem verdade. Às vezes, nos mercados e praças, encontram-se "Riscadinhas", que são de Palmela, e muito boas. Em última instância, resta-nos a "Raineta" que, normalmente, preserva a qualidade original.

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