Como nota prévia, assumo que não aprecio caviar, mas é uma questão de gosto pessoal e de somenos importância para o assunto em epígrafe.
No entanto, costumo utilizar, frequentemente, a comparação nomeadamente quando, cá fora e pela Europa fora, se confunde o essencial com o acessório. De facto, incomoda e revolta assistir a cinismos e despropósitos em que se pretende oferecer caviar a quem espera apenas ter o pão diário, sem pedir nada a ninguém.
Assim, e por uma questão de "gradação" humana, seguem alguns exemplos em que a falta de sensibilidade institucional roça o insulto e ofende a matriz do ser humano, a saber, a sua dignidade.
1 - Imagine-se um docente, numa escola pública do país, a leccionar durante semanas, no Inverno, numa sala com os vidros das janelas partidos. Para além do incómodo, para discentes e para o docente, de envergar roupas como se andassem na rua, sucede que a voz, como instrumento de transmissão, começava a claudicar como consequência da adversidade. Ora, e durante uma daquelas famigeradas "acções de formação", pretenderam dar a essa docente umas lições de colocação de voz.Suprema ironia! Obviamente, perante a falta de condições básicas na sala de aula, surgiu nada mais do que a expressão do "pão em vez de caviar" para justificar a recusa a exercícios perfeitamente extemporâneos.
2 - Parece que a Comissão Europeia, no momento de crise que o país atravessa, pretende abrir um procedimento contra Portugal por causa da "falta de bem-estar dos porcos portugueses" (sic !). Com o devido respeito, a CE continua a preocupar-se demasiado com o acessório em vez de olhar, seriamente, para as condições em que vivem os cidadãos do espaço comum.
3 - Por último, a propósito de uma reportagem do DN de ontem, acrítica como costuma ser a nossa imprensa, constatamos que, passados vários meses após o incêndio na serra algarvia, as pessoas continuam a viver em escombros. Mas, com apoio de psicólogos (!) O testemunho de uma idosa de 71 anos não podia ser mais demolidor perante esses "funcionários de bem-estar". Dizia a senhora que "nunca precisou de esmola de ninguém", destroçada num canto da sua casa ardida.
Na minha modesta apreciação, a senhora pedia apenas o pão que sempre amassou ao longo da sua vida, dispensando o caviar que lhe está a ser servido, há meses, certamente sem gostar.
Afirmo, categoricamente, que não confundo psiquiatria com psicologia. Tive o privilégio de conhecer, alguns, belíssimos profissionais de uma e de outra área do saber. Daí que aprendi, desde muito cedo, que é erro demolidor confundir o essencial com o acessório, ou seja, dar caviar a quem pede o essencial.
Post de HMJ
Dantes dizia-se que era uma vergonha de país. E agora?
ResponderEliminarTenho assistido a umas reportagens na tv... não sei onde iremos parar. Com aquela mania que toda a gente andava a roubar, cortarem no complemento aos idosos e no rendimento mínimo assistido...
Como se vive com 300 e tal euros? E com 400 e tal? E com...? 70% das famílias não consegue viver com o que ganha.
Para MR:
ResponderEliminaré, certamente, um não viver.