Meditação do Duque de Gandia sobre a morte de Isabel de Portugal
Nunca mais
A tua face será pura limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre.
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei senhor que possa morrer.
Sophia Andresen, in Mar Novo (1958).
Nota: como se explica no poste contíguo "Pequena história (15)", o título deste poema, de acordo com a verdade histórica deveria ser: "Meditação de S. João de Ávila...". Não deixa, por esse facto, de ser um dos grandes poemas de Sophia Andresen, e de toda a Poesia portuguesa.
O poema é lindo.
ResponderEliminarNunca se devia amar aquilo que não pode ser nosso toda a vida.
Dos 3 ou 4 melhores, de Sophia, na minha opinião.
ResponderEliminarOrfeu também o descobriu...