segunda-feira, 25 de abril de 2016

Idiotismos 35


Expressões há que já nem damos por elas, de tanto as usarmos no dia a dia, outras que se foram desapropriando do tempo, e é com surpresa que as vamos encontrar nos clássicos, sob a pátina respeitável dos séculos. Outras ainda que, de súbito, nos interrogam a meio de uma conversa, perguntando-nos a nós mesmos a sua origem e razão. 
Ao ver tanta ave pelos céus e campos alentejanos, dei-me a pensar que até os pássaros têm o seu destino traçado, de nascença. Às águias e às gaivotas, ou mesmo às cegonhas, ninguém as caça e mata para comer. Outro tanto não acontece às perdizes que nos caíram no goto, como prato de eleição, ou aos tordos, infelizes, que os caçadores perseguem incansavelmente.
No meio destas variações, gastronómicas ou não, se estabelecem também oposições curiosas. Se cair no goto significa engraçarmos com, ou gostarmos de, a expressão entrou-me no goto pode ser uma aflição, porque nos engasgamos e podemos sufocar, já que goto é a forma popular de glote, que é o local da faringe com a função de saída e entrada do ar nos brônquios e pulmões.

Nota complementar: a primeira vez que a expressão cair no goto aparece, em literatura, data de 1555, na Comédia "Eufrosina", de Jorge Ferreira de Vasconcelos. Herculano utilizou-a também em "O Monge de Cister" (1848), bem como Camilo no romance "Aventuras de Basílio Fernandes Enxertado" (1863).

agradecimentos a A. de A. M., pela colaboração e ajuda.

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