quarta-feira, 6 de abril de 2016

"Não corras para o mar, Tâmega, tanto..."


Para quem vem de Lisboa, Chaves é um sossego inesperado. Mesmo que se venha em busca de um "Compromisso (...) da Misericórdia", de 1516, que poucos sabiam existir. Existe, realmente, e embora lhe falte uma gravura, encontra-se em razoável estado de conservação. Passados 500 anos.
Ocorreu-me o início do soneto de Jazente (1719-1789), para título do poste, ao saber das quatro pontes sobre o Tâmega, em Chaves, pese embora, por aqui, ele passar pachorrento, como o vi, hoje. Talvez por Amarante e nos tempos do Abade poeta, o rio fosse mais lançado e jovem. Mas cruzam-se assim os diversos tempos, desde a ponte romana até à que nos anos 50, do século passado, foi construída para as gentes de Aquae Flaviae. Como se cruzam no largo equilibrado e simpático, que terá sido Forum romano, os maneirismos tímidos com a renascença clara, mesmo quando absorve uns restos quase apagados do que foi uma igreja românica.
O núcleo museológico é que deixa muito a desejar. Já de si diminuto, ainda se divide por três  pólos distintos, embora próximos: arqueológico, arte sacra e militar, na torre que foi de menagem do primeiro duque de Bragança, D. Afonso. Tirando a parte castreja, o resto é prontamente esquecível, pela banalidade das peças. Valeu-me para memória futura a Vénus de Vidago, tosca escultura insólita, mas pessoalíssima, de algum ignorado artista de outras eras. Destaque para a sua pétrea gravidez, com uma posição de pés, impossível, que o escultor, na sua primitiva liberdade de criação, assim projectou para lhe melhorar a base de sustentação...


4 comentários:

  1. Há muito que não vou a Chaves.
    Quando vi a Vénus de Vidago lembrei-me da Vénus de Willendorf, escultura que não aprecio nada, o que não é o caso da de Vidago.

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    1. Originalíssima, esta Vénus castreja e rural, ao que parece, imagem votiva à fecundidade...

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  2. por Amarante o Tâmega também segue pachorrento. acusa o peso da idade.

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    1. Pois faz ele bem, que Amarante é bem bonita e merece ser saboreada devagar..:-)

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