O título é uma pequena ironia ou uma ligeira provocação de alerta. Mas é certo que, atingida a maturidade, quase todos nós cultivamos alguns ódios de estimação, bem como algumas fiéis adorações que, haja o que houver, sempre mantemos.
No que à arte diz respeito, Alberto Pimentel (1849-1925), no seu estudo sobre o Poeta Chiado, tem algumas palavras lúcidas e esclarecedoras sobre esta matéria, que vou, em parte, transcrever:
"...Affeiçôa-se a gente a um escriptor, a um maestro, a um pintor ou a um estatuário, que morreu ha muitos annos ou ha longos seculos, e não deixamos apagar nunca a lampada do seu culto: colleccionamos-lhe as obras sem olhar a dinheiro, por mais raras que sejam; conservamol-as em grande veneração como thesouros que um avarento aferrolha a sete chaves; e estamos sempre promptos a combater de ponto em branco pela gloria e beleza das suas producções, quando apparece algum zoilo a menosprezal-as com azedume.
(...)
O meu fallecido amigo visconde de Alemquer, que era um gentleman distinctissimo, primoroso em maneiras e acções, além de ser um biblióphilo digno de apreço e consulta, tomou tanto gosto pelas obras do padre José Agostinho Macedo, que passou a maior parte da existencia a colleccional-as por bom preço e a muito custo.
Comtudo, havia tanta disparidade entre o caracter de um e do outro, porque o auctor dos Burros foi o mais attrabiliario, inconstante e perigoso homem de letras de todo o nosso Portugal, que o visconde de Alemquer, se houvesse sido contemporaneo do padre José Agostinho, nunca teria podido ser seu amigo, nem seu defensor, nem jámais o quereria vêr em intimidade de portas a dentro. ..."
E, ora aí está, porque, ao contrário do visconde de Alenquer, eu quase tenho um desamor de estimação pelo padre Macedo, e se possuo os Burros, porque integrados no Parnasso Lusitano, coligido por Garrett, não lhe aprecio a obra, nem nunca comprei nenhuma das suas numerosas publicações, embora tivesse tido várias oportunidades de o fazer. E a bom preço, que algumas são bem raras.
Comtudo, havia tanta disparidade entre o caracter de um e do outro, porque o auctor dos Burros foi o mais attrabiliario, inconstante e perigoso homem de letras de todo o nosso Portugal, que o visconde de Alemquer, se houvesse sido contemporaneo do padre José Agostinho, nunca teria podido ser seu amigo, nem seu defensor, nem jámais o quereria vêr em intimidade de portas a dentro. ..."
E, ora aí está, porque, ao contrário do visconde de Alenquer, eu quase tenho um desamor de estimação pelo padre Macedo, e se possuo os Burros, porque integrados no Parnasso Lusitano, coligido por Garrett, não lhe aprecio a obra, nem nunca comprei nenhuma das suas numerosas publicações, embora tivesse tido várias oportunidades de o fazer. E a bom preço, que algumas são bem raras.
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