sábado, 16 de março de 2013

Neo-realismos, ontem e hoje


Há dias, na zona térrea das estantes (de livros mais baratos) do meu alfarrabista de referência, dei pelo livro "A Caminhada - Livro de Vivências" (Prelo, 1975), de Sidónio Muralha (1920-1982). O autor, nómada impenitente de 3 continentes, teve nome, nos anos 50/60 portugueses e já aqui falei dele ("Usura do tempo", em 14/11/2010), como poeta e escritor de sucesso de livros infantis bem interessantes. Mas a sua poesia (o livro acima citado é uma espécie de diário, com poesia intercalada) é, em excesso, datada, ortodoxamente neo-realista, ideologicamente estandardizada. Hoje, terá apenas interesse por motivos cronológicos de estudo de uma época. Os tiques neo-realistas são muito evidentes e perderam todo o interesse, com o tempo.
E dei-me a pensar que grande parte da poesia, que hoje se publica, enferma dos mesmos tiques, embora mais urbanos e cosmopolitas. É um novo neo-realismo post-moderno que pontifica e predomina. Muito agarrado ao tempo, ao real quotidiano citadino de ninharias, sem grande profundidade. Já Drummond dizia: "não faças poemas sobre acontecimentos...", e bem. Muita desta poesia actual sofre dos mesmos sintomas endémicos que sepultaram, no tempo, a poesia de Sidónio Muralha.

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