A água, lá no fundo do poço, estremece levemente, quando olhada de cima. Como que se agita, num arrepio, à tona. Há correntes subterrâneas e profundas, invisíveis, de que não descortinamos a origem, nem saberemos, nunca, a causa.
Quando, manhã cedo, chegou à porta de casa do amigo, advogado, o homem - que envelhecera imenso de espírito, na noite anterior - reparou que as mãos lhe tremiam. E, quando falou, ao ouvir-se a dar bom dia, foi-se apercebendo, também, que a voz estremecia a cada nova palavra que pronunciava. Se o discurso, depois da insónia ou vigília, era coerente e pensado, as frases iam sendo ameaçadas por lágrimas que não conseguia controlar.
Hoje, esse homem fala do episódio real, com frieza e distância, mas não deixa de se lhe notar a pele lisa na testa e nas fontes, que acusa uma crispação desusada e emotiva. E, ao que parece, transparece das suas palavras, uma saudade estranha...
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