"...Ainda há poucos anos, o médico, o pintor e o freguês de casas de passe eram os únicos mortais que conheciam o nu, cada um segundo o seu mester. Os amantes praticavam-no com medida; mas um homem que bebe não é necessariamente um verdadeiro amador e conhecedor de vinhos. A embriaguês não tem nada a ver com conhecimento.
O Nu era coisa sagrada, isto é, impura. Permitiam-no às estátuas, por vezes com algumas reservas. As pessoas graves tinham-lhe horror no seu estado vivo, admiravam-no em mármore. Toda a gente sentia confusamente que nem o Estado, nem a Justiça, nem o Ensino, nem os Cultos, nem nada de sério poderia funcionar se a verdade fosse inteiramente visível. É preciso um traje próprio para o juíz, para o padre, para o mestre, porque a sua nudez arruinaria tudo aquilo que tem o dever e terá de ser impecável e inumano numa personagem que encarna uma abstracção.
O Nu não tinha em suma senão dois significados nos espíritos: tanto, o símbolo do Belo; como também o do Obsceno. ..."
Paul Valéry, in Degas, Danse, Dessin (pg. 110).
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