A morte leva-se a sério, em Portugal, e é envolta, quase sempre, em intenso dramatismo. Por outro lado, creio serem raríssimos os casos em que, o vivente português deixa, por antecipação e vontade expressa, o texto para o seu próprio epitáfio. Mas, quem visite os cemitérios portugueses, há-de constatar a existência maioritária da expressão "eterna saudade" ou "saudade eterna", como legenda posta pelos sobreviventes na campa do morto estimado. Haverá, talvez, pouca imaginação lusa, em relação à morte e aos afectos.
James Campbell, no penúltimo TLS (nº 5736), refere que "os epigramas e os epitáfios são primos direitos e chegados", com razão, sobretudo no que a gregos e ingleses diz respeito. Há muitas vezes nessas legendas votivas um ponta de humor, possivelmente, para contrabalançar o peso e inevitabilidade da morte. E Campbell dá alguns exemplos retirados da obra Cut These Words into My Stone: Ancient Greek epitaphs, de Richard P. Martin. Vou tentar traduzir dois deles:
O modo como o submundo é justo
quer venhas de Atenas ou do Nilo.
Não te preocupes, se morreres longe de casa.
Uma pequena brisa gentil sopra sempre
de nenhures até à terra dos mortos.
O segundo epitáfio é de um artista de teatro, e reza assim:
Eu, actor, Philiston
aliviei a dor humana pela comédia e pelo riso.
Homem de teatro, muitas vezes morri em cena,
mas nunca como agora, aqui.
O epitáfio do artista de teatro é genial. :-)
ResponderEliminarÉ, realmente, uma tirada "final" brilhante..:-))
ResponderEliminarPouca imaginação e péssimo gosto (os cemitérios portugueses)
ResponderEliminarConcordo com MR: o 2º é genial :-)
É verdade...E aquele "eterna" é sempre uma mentira piedosa..:-)
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