domingo, 24 de março de 2013

Epitáfios e epigramas


A morte leva-se a sério, em Portugal, e é envolta, quase sempre, em intenso dramatismo. Por outro lado, creio serem raríssimos os casos em que, o vivente português deixa, por antecipação e vontade expressa, o texto para o seu próprio epitáfio. Mas, quem visite os cemitérios portugueses, há-de constatar a existência maioritária da expressão "eterna saudade" ou "saudade eterna", como legenda posta pelos sobreviventes na campa do morto estimado. Haverá, talvez, pouca imaginação lusa, em relação à morte e aos afectos.
James Campbell, no penúltimo TLS (nº 5736), refere que "os epigramas e os epitáfios são primos direitos e chegados", com razão, sobretudo no que a gregos e ingleses diz respeito. Há muitas vezes nessas legendas votivas um ponta de humor, possivelmente, para contrabalançar o peso e inevitabilidade da morte. E Campbell dá alguns exemplos retirados da obra Cut These Words into My Stone: Ancient Greek epitaphs, de Richard P. Martin. Vou tentar traduzir dois deles:

O modo como o submundo é justo
quer venhas de Atenas ou do Nilo.
Não te preocupes, se morreres longe de casa.
Uma pequena brisa gentil sopra sempre
de nenhures até à terra dos mortos.

O segundo epitáfio é de um artista de teatro, e reza assim:

Eu, actor, Philiston
aliviei a dor humana pela comédia e pelo riso.
Homem de teatro, muitas vezes morri em cena,
mas nunca como agora, aqui.

4 comentários:

  1. O epitáfio do artista de teatro é genial. :-)

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  2. É, realmente, uma tirada "final" brilhante..:-))

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  3. Pouca imaginação e péssimo gosto (os cemitérios portugueses)
    Concordo com MR: o 2º é genial :-)

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  4. É verdade...E aquele "eterna" é sempre uma mentira piedosa..:-)

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